Período da história cultural europeia que se iniciou na Itália à volta de 1400 e se prolongou até ao final do século XVI. Em outros pontos da Europa, teve uma aparição mais tardia, durando até ao século XVII. É característica do Renascimento a descoberta do mundo e do indivíduo, bem como a redescoberta (iniciada por Boccaccio e Petrarca) da Antiguidade clássica pagã. Eram elementos centrais do Renascimento o conceito de humanismo, a crença na vida activa, em vez da contemplativa, e uma fé nos ideais republicanos.
A maior expressão do Renascimento está patente nas artes e no saber. Alberti, nos seus escritos sobre arte, criou um método de pintura, que advogava o uso da perspectiva para provocar a ilusão da tridimensionalidade, e estabeleceu também uma nova temática não religiosa e de inspiração clássica. Na arquitectura, criou, através dos seus textos e dos seus edifícios, um sistema de proporções simples que iria ser seguido ao longo de centenas de anos. Masaccio e Bruneleschi, seus contemporâneos, exemplificaram essas ideias na pintura e na arquitectura, respectivamente. Quanto à produção artística, os críticos e historiadores de arte consideram o período entre 1490-1520 como um ponto alto (o "Renascimento pleno "), com as obras de Leonardo da Vinci, Rafael, e Miguel Ângelo, na pintura, e Miguel Ângelo e Bramante, na arquitectura. O apogeu da pintura veneziana viria alguns anos depois, com Ticiano, Veronese e Tintoretto. Leonardo tem sido descrito como um "homem universal" devido à grande abrangência dos seus estudos e actividades, que incluíram a pintura, a arquitectura, a ciência e a engenharia. As grandes realizações dos artistas foram possíveis graças ao mecenato de poderosas famílias, como os Sforza, em Milão, e os Médicis, em Florença, ou do doge de Veneza e ainda de papas como Júlio II e Leão X. Na literatura, tanto Boccaccio como Petrarca escreveram importantes obras em italiano, em vez de latim, uma orientação que foi continuada com a criação de poemas épicos em vernáculo por Ariosto e Tasso. A evolução do religioso para o secular tornou-se visível na criação das primeiras bibliotecas públicas e nas muitas traduções de clássicos, publicadas em Veneza no século XVI. Na filosofia, a redescoberta do pensamento grego tomou a forma do neoplatonismo, associado a figuras como Marsilio Ficino. Maquiavel fundou, com a sua obra O Príncipe, os alicerces do moderno estudo da política.
Fora da Itália, a arte e as ideias renascentistas espalharam-se por toda a Europa. Erasmo, nos Países Baixos, encarnou a erudição humanista europeia; entre os pintores da Europa setentrional contavam-se Dürer e Holbein. Em França, alguns dos escritores renascentistas foram Rabelais, Du Bellay e Montaigne; em Espanha, Cervantes, em Portugal, Camões, e em Inglaterra, Shakespeare.
O termo "renascimento", como definição de um período da história cultural, foi introduzido por historiadores do século XIX. Nas artes, o fim do Renascimento foi marcado por um movimento ocorrido nos finais do século XV — o maneirismo; reagindo contra as convenções rígidas entretanto estabelecidas, caracterizou-se pela tendência para um alongamento deliberado da figura humana e uma distorção propositada das perspectivas. Contudo, o verdadeiro fim dos ideais renascentistas só viria a dar-se com a ascensão do iluminismo, nos finais do século XVII.
A ideia de Renascimento
O historiador de arte Vasari aplicou o termo italiano rinascita (renascimento) ao período ascencional da arte a partir de Giotto. Este critério já tinha sido muitas vezes antecipado, se bem que nunca de forma sistemática; mas foi apenas a crítica de arte do século XIX que adoptou este conceito para caracterizar o desenvolvimento da cultura italiana do século XIV até aos princípios do século XVI. Esta a razão que levou a que um fenómeno distintamente italiano fosse estranhamente baptizado com um termo de origem francesa: renaissance, ainda hoje se mantendo em alguns sistemas classificativos o termo "renascença". Para Michelet, a designação significava a descoberta do mundo e do indivíduo, ideias popularizadas por Burckhardt no seu famoso livro A Civilização do Renascimento em Itália (1860). Essencial a esse processo era a redescoberta da Antiguidade clássica e, como esta era por definição pagã, a sua revivificação, acompanhada pela descoberta do indivíduo, tingiu toda a visão do Renascimento como anti-medieval e anti-cristão. Assim, segundo o mesmo entendimento, ao mundo cristão da Idade Média seguir-se-ia uma era esplêndida na esfera cultural, mas pagã, logo suspeita nas suas qualidades morais e destinada a um castigo condigno simbolizado pelas catástrofes que assolaram a Itália nos finais do século XV.
Naturalmente, houve quem por isso lamentasse e vituperasse o Renascimento, ou fosse mais longe, negando a sua importância ou mesmo a sua existência. Para além dessas críticas marginais e para aqueles que ainda afirmam a importância crucial do Renascimento italiano, as opiniões extremamente simples dos críticos do século XIX foram alvo de modificações, contrariando-se claramente a afirmação das consequências pagãs da ressurreição da Antiguidade clássica. A base deste argumento é a figura de Petrarca: mesmo numa leitura mais superficial, é evidente o seu temperamento resolutamente cristão, tornando-se óbvio que o movimento de humanismo que dele parte não pode ter nem uma face nem uma orientação anti-cristã. Apesar de ainda estar preso à desconfiança medievo-cristã em relação às coisas deste mundo, Petrarca acaba por, tanto a partir da sua leitura dos pais da igreja como de Cícero, proclamar a providencialidade do mundo, destinado à vida dos humanos e não à sua renúncia pelos mesmos. Assim, Petrarca inicia uma visão essencialmente positiva da humanidade na sua existência terrena.
o século XV em Florença
Através de Boccaccio e especialmente do historiador Coluccio Salutati (1331-1406), as ideias de Petrarca entraram em Florença nos finais do século XIV, inspirando aquilo a que se chamou um "humanismo cívico", a crença no valor da vida activa, em vez da contemplativa, expressa na defesa florentina da causa da liberdade republicana. Antes do surgimento de Petrarca, a autoridade cristã residia na figura de São Jerónimo, citando-se Sancta quippe rusticitas solum sibi prodest, ut ille ait ("Atendendo a que a ingenuidade sagrada apenas se beneficia a si própria, como ele diz"). Petrarca tornou-se por sua vez uma autoridade, resultando dessa confirmação a actividade dos educadores humanistas, dos quais se destacaram Guarino da Verona (1374-1460) e Vittorino da Feltre (1378-1446), e os muitos tratados da primeira metade do século XV, sobre o tema da dignidade da humanidade. O melhor exemplo destes tratados é um trabalho da autoria de Giannozzo Manetti (1369-1459), Sobre a Dignidade e Excelência do Homem (1451-1952), com o seu lema para o humanismo da época: Agere et intelligere (fazer e compreender). Nada poderia indicar de melhor maneira o temperamento do quattrocento italiano, na sua ânsia de acção e conhecimento.
Petrarca
Se bem que florentino de origem, Petrarca foi criado na
Provença, devido ao exílio do seu pai. Assim, beneficiou do
processo pelo qual clérigos italianos, com a aprovação de
eclesiásticos franceses, iam tendo acesso às velhas
bibliotecas das catedrais francesas. Petrarca iria encontrar
a obra de Lívio quase completa em Avinhão, procedendo
ao restauro do texto, entretanto sujeito à acção do tempo.
Embora Petrarca nunca tenha alardeado esses seus
estudos, eles constituíram uma das fontes da recuperação
crítica da herança clássica no século XV, apesar de
apenas secundar Boccaccio na retoma de contacto com o
há muito perdido mundo da literatura e erudição gregas.
Petrarca recriou uma ideia de latinidade clássica, iniciando
a recuperação e a revisão de textos antigos que foi
continuada no início do século XV. Esta tarefa foi
executada com tal entusiasmo que, especialmente no
caso da literatura em latim, já se encontrava virtualmente
completa no primeiro quartel do século XV, com a geração
de Poggio Bracciolini (1380-1459), um dos mais bem
sucedidos descobridores de manuscritos clássicos
encerrados nas bibliotecas monásticas.
Alberti e as artes visuais
Enquanto o impulso literário veio de Petrarca, coube a
outro florentino, apenas um século mais tarde, legislar as
artes. Leon Battista Alberti vinha também de uma família
exilada de Florença, mas o forte impacto da cena florentina
quando lá regressou, por volta de 1430, fê-lo dedicar-se à
prática e à teoria artísticas. Como nenhum tratado de
pintura nos chegou da Antiguidade, Alberti é o primeiro a
transmitir ideias neste campo. O seu Da Pintura (1435)
codifica e aclara a conquista florentina da representação
espacial na pintura, fazendo do mundo real o tema da
própria pintura, visto como que através de uma janela, com
a ilusão tridimensional criada por uma perspectiva assente
em bases matemáticas. Esta revolução na abordagem
erradicou a arte religiosa dos góticos e bizantinos, mais
simplista nos seus fundos dourados e nas suas cores
primárias e puras. Em consonância com a renovação da
forma, Alberti garantiu também uma renovação temática.
Para ele, uma "história" é o que a pintura inclui, e cita
como exemplo a Calúnia de Apeles, uma das poucas
pinturas da Antiguidade de que há registo. E assim, ao
lado da dominante arte eclesiástica da Idade Média,
nasceu a pintura secular do Renascimento.
Alberti não é menos revolucionário no seu estabelecimento
de novas regras da arquitectura. Nesta área, foi tanto
arquitecto (o palácio Rucellai em Florença, o templo
Malatestiano em Rimini) como teórico. Ao contrário do que
acontecia com a pintura, tinham sobrevivido trabalhos de
autores como Vitrúvio, um teórico antigo. O conceito de
Renascimento, apenas como culto e imitação da
Antiguidade, é apresentado no livro de Alberti, Da
Arquitectura (1452). Mas, tal como revela na fachada de
Santa Maria Novella (1472), em Florença, um profundo
respeito pelos elementos da gramática do gótico, na
escrita, Alberti mostra-se notavelmente independente de
Vitrúvio. Procurava mais princípios do que regras e
estabeleceu, juntamente com o conceito da arquitectura
como actividade, uma trilogia humanística de necessidade,
comodidade e deleite.
Tal implica, claro, a substituição de alguns elementos de
grandes dimensões, reduzidos a um todo simétrico pelo
uso de um módulo básico e de proporções simples que
pareciam a Alberti comuns à arquitectura, à música, e à
ordem subjacente a toda a natureza. Pondo fim à
multiplicidade de elementos que era emblemática da
arquitectura gótica, Alberti propôs uma arquitectura
racional e, através de uma ligação muito natural,
associou-a à revivificação do idioma clássico, associação
talvez menos lógica do que acreditava; mas, assim como
se revelaria da maior importância para a futura arquitectura
de toda a Europa, esta associação foi também da maior
conveniência. De uma só vez, a arquitectura ganhou uma
linguagem universal, a que não faltavam colunas (que eram
para Alberti o mais nobre dos ornamentos) e ordens
clássicas, com elementos modulares capazes de permitir
inúmeras variações, característica que iria revelar-se de
grande utilidade não só ao longo do período do
Renascimento, dentro da própria Itália, mas no restante
território europeu e, posteriormente, no continente
americano até aos finais do século XIX.
Assim como podemos dizer que Alberti codificou o que já
acontecia na pintura florentina com Masaccio, também
podemos dizer que na arquitectura codificou e, mais ainda,
classicizou o que tinha sido iniciado com Brunelleschi. A
teoria pictórica de Alberti abriu caminhos que iriam ser
percorridos até ao impressionismo, se bem que devamos
incluir neste percurso uma contribuição vital por parte dos
pintores flamengos, que se tornaram conhecidos e
apreciados na Itália no século XV, graças aos contactos
estabelecidos através do comércio da lã. Os flamengos
tinham chegado de forma empírica ao uso da perspectiva e
trouxeram a nova técnica de pintura a óleo, que influenciou
em especial a arte colorista de Veneza. Mas, do ponto de
vista da arquitectura, a teoria de Alberti subjaz ao próprio
Renascimento e a períodos e estilos subsequentes, como
o barroco, o rococó e o neoclassicismo.
Estes foram os contributos de Florença para aquela que foi
a era, primeiro, do humanismo e, depois, do
Renascimento. Na Itália, o feudalismo nunca se
estabeleceu de forma firme e devido às fraquezas das duas
autoridades de carácter "universal", o império e o papado,
algumas cidades estabeleceram a sua autonomia e
prosperaram com a primazia italiana no comércio e na
banca. Foi numa Florença enriquecida pelo comércio da lã
e da seda e pela banca que as novas ideias se puderam
desenvolver. Como estas condições eram já existentes, tal
significa que não existe uma linha de divisão única entre a
Idade Média e o Renascimento, havendo vários tipos de
sobreposições entre os dois. De facto, para Vasari, o
momento do Renascimento das artes é 1250,
considerando Giotto o instrumento desta mudança,
coincidindo a data com a primeira forte afirmação da
primazia florentina na Toscânia.
o século XV noutras cidades italianas
Florença foi a representante da era e do espírito das
comunas, que contudo tendiam naturalmente a dar lugar a
famílias dirigentes. Em Florença, os Médicis tornaram-se
virtualmente príncipes a partir de 1434 e, sob a égide de
Lorenzo Medici, o Magnífico, os novos aspectos da cultura
floresceram num ambiente cortês. Esta situação repetiu-se
noutras cortes de Itália, nomeadamente com os Gonzaga,
em Mântua, os Este, em Ferrara, os Sforza, em Milão,
Federigo da Montefeltro, em Urbino, e Alfonso de Aragão,
em Nápoles. A procura de manuscritos clássicos
estendeu-se até Bizâncio e, com a queda do Império do
Oriente, em 1453, vieram juntar-se à influência grega no
saber renascentista as contribuições de eruditos de
regiões orientais. Entre estes destacou-se o cardeal
Bessarion (c.1403-1472), cujo legado da sua biblioteca
pessoal veio ajudar na fundação da grande Biblioteca de
São Marcos, em Veneza. Antes desta, em Florença, a
primeira biblioteca pública da Europa tinha sido
estabelecida pelos Médicis, em San Marco. Tudo isto fez
parte de um processo através do qual a erudição, em
tempos exclusivamente monástica, se tornou secular.
A secularização do saber conheceu grandes avanços com
a invenção, na Alemanha, em meados do século XV, da
imprensa com tipos móveis. A imprensa foi importada para
a Itália por volta de 1460, sendo rapidamente adoptada,
especialmente em Veneza que, pelo menos durante um
século, se tornou no centro do comércio livreiro europeu.
Antes da época da imprensa, o papa Nicolau XV havia
encorajado a tradução para latim dos autores gregos que
então estavam a ser descobertos. Mas, na viragem do
século, Aldus Manutius, o famoso tipógrafo e impressor
romano estabelecido em Veneza, forneceu à Europa as
editiones principes (primeiras edições impressas) da
literatura grega e, com a sua adopção do tipo itálico, em
1501, uma série completa de textos simples e em
pequenos formatos da literatura clássica e moderna. As
fundações do mundo moderno assentaram nesta nova, e
até aí impensável, disponibilidade do saber para todos.
A Arte do Renascimento Pleno
Do ponto de vista artístico, o século XV era já
esplendoroso: de Masaccio, Donatello e Botticelli a Piero
della France, Cosimo Tura e Andrea Mantegna. Mas, com
o início do século XVI e com os pontificados de Júlio II e
Leão X, Roma passou a ser um centro artístico, com
pontos altos deste período nas obras de Miguel Ângelo e
Rafael. A par destes dois encontra-se um terceiro génio —
Leonardo da Vinci que, nunca tendo estado em Roma,
ligou-se a Lodovico Sforza, em Milão, findando a sua vida
em 1519, em França, onde se encontrava a convite de
Francisco I. O trabalho em pintura de Leonardo torna-se
ainda mais precioso por ser escasso e pela fragilidade das
telas, devido às suas experiências pictóricas. Para Vasari,
estes três artistas significaram o culminar de uma
ascensão contínua, iniciada no século XIV: trouxeram uma
aura de grandeza quase sobre-humana à arte italiana, ideia
que não se desvaneceu desde então. Dada a extensão e
diversidade dos seus conhecimentos, Leonardo tem
sempre sido encarado como o exemplo do conceito
renascentista do "homem universal".
o Renascimento em Veneza
Veneza tinha-se mantido algo afastada dos padrões
gerais, virando-se para o exterior, graças ao seu comércio
com o Levante, e para o passado, devido às suas ligações
com o Império do Oriente. Todavia, esta cidade iria dar um
passo em frente, com a geração de Aldus a dominar o
comércio livreiro. Com as obras de Bellini e Giorgione,
conquistou neste domínio um lugar comparável ao de
outras cidades, quanto à pintura renascentista. Apesar da
cruel crise da guerra de Cambrai, em 1508, Veneza
conseguiu sobreviver à queda das liberdades italianas e ao
advento do absolutismo com Carlos V (a partir de 1530).
Permaneceu uma cidade próspera e livre, ao longo século
XVI, e manteve o esplendor artístico com Ticiano,
Veronese e Tintoretto, bem como com o mais influente de
todos os arquitectos do Renascimento, Andrea Palladio. E
se, em geral, o ano de 1530 pode ser considerado como
uma espécie de término do Renascimento em Itália, no
caso de Veneza, a data pode ser avançada até cerca de
1600.
A ideia do cavalheiro renascentista
Tal como é pouco rigoroso analisar o Renascimento em
termos de um contraste simples e claro com a Idade
Média, como fizeram Michelet e Burckhardt, ele também
não deve ser tomado como um todo uniforme. Ao período
do humanismo cívico sucedeu o domínio dos Médicis em
Florença. Nos contactos feitos com eruditos orientais,
quando o Conselho de Florença procurava reconciliar as
igrejas do Ocidente e do Oriente, num último esforço para
afastar a ameaça dos turcos, Cosimo de Médicis sentiu-se
atraído pela figura de Platão. Daí resultaram o seu
mecenato em relação a Marsílio Ficino e o nascimento da
Academia Platónica. Ficino tornou-se discípulo de Platão,
defendendo o neoplatonismo.
Talvez por coincidência, mas de forma adequada a uma
corte, o ideal contemplativo voltou, mais uma vez, a
substituir o activo. Este ideal foi alargado a toda a Europa
através de um livro que espelhava a mais nobre das cortes
italianas, a de Urbino: O Livro do Cortesão, de Baldassar
Castiglione. Publicada em 1528 (ou seja, após o saque de
Roma de 1527), esta obra contém uma visão nostálgica
dos princípios civilizacionais cultivados em Urbino, no
tempo de Federigo da Montefeltro, num dos mais belos
palácios principescos. Além de expor à Europa, nas suas
conclusões, as ideias do neoplatonismo, mais do que o
estatuto do cortesão definia o ideal do cavalheiro. Nenhum
outro livro deste tipo conseguiu concentrar tão bem os
ideais do Renascimento italiano.
Religião e ciência renascentistas
Lorenzo Valla revelou-se a mais penetrante mente crítica
do século XV. Enquanto filologista, abriu caminho a
Poliziano e ambos tornaram-se figuras respeitadas pelos
eruditos clássicos modernos. Como autor de Elegantiae
(1435-1944), Valla revelou os modos de se atingir um estilo
latino mais puro. Erasmo publicou as Adnotationes in
Novum Testamentum (Notas sobre o Novo Testamento) de
Valla, onde o que parecia uma forma de crítica sacrílega
era pela primeira vez aplicada à própria "palavra de Deus".
Valla foi tomado como um predecessor pelos pensadores
da Reforma, mas a sequência cronológica do
Renascimento que precedeu a Reforma não implica
necessariamente causa e efeito, não sendo possível
estabelecer elos firmes entre as duas situações. Da
mesma forma, é duvidoso estabelecer que a noção de
progresso científico esteja enraizada no Renascimento
italiano. Na verdade, Toffanin defendeu a tese de que a
ascensão do humanismo sufocou as ciências em favor de
fenómenos literários. A imprensa de caracteres móveis foi
inventada pelos alemães, Copérnico era de origem polaca
e Francis Bacon precedeu Galileu, que deu à Itália um
sucesso científico já no século XVII, fora dos limites
cronológicos normalmente estabelecidos para o
Renascimento.
Educação
O objectivo da educação renascentista era produzir o "ser
humano completo" (o uomo universale), com formação
em estudos humanísticos, matemática e ciência (incluindo
as suas aplicações na guerra), nas artes e ofícios, na
aptidão física e nos desportos; alargar os limites do saber
e do conhecimento geográfico; encorajar o
desenvolvimento do cepticismo e do livre-pensamento, bem
como o estudo e a imitação da literatura e arte gregas e
latinas. O estudo dos clássicos não era considerado
incompatível com os princípios cristãos, no entanto as
mulheres recebiam pouca instrução formal.
Pensamento político e história
Foi no pensamento político e na escrita histórica que a
Itália esteve mais claramente adiantada em relação à
Europa. Leonardo Bruni, chanceler de Florença (e um dos
humanistas cívicos da era de Salutati), escreveu em latim
uma grande História do Povo Florentino, que representou
um corte com a tradição cronista medieval (renunciando a
qualquer noção de providência divina na história) e
antecipou por um século o trabalho de Maquiavel e
Guicciardini. O Príncipe (1503) de Maquiavel foi muito mal
compreendido, mas constituiu a pedra de toque da
discussão política, enquanto as suas Histórias Florentinas
e, mais ainda, a História da Itália (1537-1940) de
Francesco Guicciardini são documentos fundamentais da
moderna escrita histórica.
o Renascimento e a literatura vernácula
O facto de tanto Guicciardini como Maquiavel terem escrito
no vernáculo é prova de que as teorias novecentistas,
segundo as quais o humanismo sufocava, com a sua face
fria e imitativa, o veio nativo da literatura, estavam erradas.
Na verdade, uma forte corrente vernácula perpassou todo o
século XV e foi reconhecida e encorajada por muitos
humanista, como Bruni ou Alberti. Figuras como Lorenzo,
o Magnífico, e Poliziano retomaram conscientemente a
poesia vernácula e os géneros sobreviventes foram
enriquecidos pelo contacto com a poesia clássica. Tal é
claro no caso de Ariosto, cujo Orlando Furioso (1532) é o
poema mais popular do século XVI. Por fim, no início do
século XVI surgiu Pietro Bembo (1470-1547), concedendo
ao vernáculo um estatuto semelhante ao da própria língua
latina. O seu Prose della volgar lingua (Prosas da Língua
Vulgar), de 1525, fez do toscano o idioma literário
inquestionável de toda a Itália e abriu o caminho a outras
obras, em outros países, como a Deffense et Illustration
de la Langue Françoise (Defesa e Ilustração da Língua
Francesa) de Joachim Du Bellay, ou a Defense of Poesie
(Defesa da Poesia) de Philip Sidney.
o Renascimento fora de Itália
O impacto do humanismo e do Renascimento italiano no
resto da Europa foi variado. Erasmo, mais do que qualquer
outra figura isolada, encarnou a erudição humanista na
Europa setentrional. Encontrou e publicou, em 1505, as
Adnotationes in Novum Testamentum (Notas sobre o Novo
Testamento) de Lorenzo Valla, começando assim a
ciência da crítica aos textos bíblicos. A geração de
Erasmo reconheceu as três línguas eruditas: latim, grego e
hebreu. Esta última foi acrescentada por mérito especial
de Pico della Mirandola, um prodígio de erudição que se
ergueu a par de Ficino na renovação de atitudes, durante a
segunda metade do quattrocento, em Florença. Este ideal
do collège trilingue iria inspirar Rabelais, na França do
início do século XVI. Também a obra de Montaigne, com a
sua formação puramente latina, o seu vasto conhecimento
dos autores latinos e o seu interesse pelo indivíduo, seria
impensável sem o fundo do Renascimento.
Quando Carlos VIII invadiu a Itália em 1494, o impacto da
cena artística italiana nos meios franceses foi muito forte,
levando a que a arte e os artistas italianos se
espalhassem pela França. Além de Leonardo, outros
artistas italianos como Primaticcio ou Niccolò dell'Abate
trabalharam para Francisco I, em Fontainbleau, exercendo
uma influência decisiva na escola de Fontainebleau.
Francisco I também empregou uma das figuras essenciais
do Renascimento — Benvenuto Cellini. Os efeitos na arte
francesa prolongaram-se de forma irregular até ao século
XVII, com Claude Lorrain e Poussin, e os princípios da
arquitectura italiana tiveram sempre de fazer concessões
às fortes tradições arquitectónicas francesas.
O Renascimento chegou tardiamente a Portugal e,
inicialmente, por via francesa. A característica específica
mais importante do Renascimento português é a sua
ligação à expansão marítima, que permitiu, não só ao país,
mas a toda a Europa, um conhecimento do mundo sem
paralelo até então e que se repercutiu nas artes, nas
ciências e na literatura. Simultaneamente, o paço real -
nomeadamente nos reinados de D. Manuel I e D. João III -
impulsionou os estudos de portugueses nas universidades
da Europa, pondo-os em contacto com as mentalidades e
os conhecimentos renascentistas. Muitos destes
estudiosos vieram depois a difundir as novas ideias como
professores das universidades de Lisboa e Coimbra. Esta
última viu mesmo o seu plano de estudos alterado,
proporcionando uma maior atenção ao humanismo,
privilegiado também no Colégio Real das Artes, então
fundado. Na filologia, o humanismo deu azo a uma série de
estudos sobre o português e a uma renovação do léxico e
da sintaxe que definiram uma nova fase da língua. Por
outro lado, a experiência prática da vida no ultramar
proporcionou um surto importante de literatura científica (D.
João de Castro, Garcia de Orta), de viagens (Fernão
Mendes Pinto, Pêro Vaz de Caminha) e também de
historiografia (Diogo do Couto, Fernão Lopes de
Castanheda). Outros grandes representantes do novo
espírito foram João de Barros, Damião de Góis, António
Ferreira e Camões (embora a literatura do último tenha já
influências do maneirismo). O estabelecimento da
Inquisição, em 1547, e o movimento da contra-Reforma
vieram impor severas restrições à actividade artística
portuguesa, situação agravada pela perda da
independência, em 1580, que implicou o desaparecimento
da corte de Lisboa (grande centro cultural do país), abrindo
caminho à decadência do espírito que animara esta
renovação.
Arquitectura do Renascimento
A arquitectura na Europa do Renascimento caracterizou-se
genericamente pela redescoberta do sistema de
composição clássico. Em Itália, o quattrocento foi
marcado pela investigação das fontes clássicas (literatura,
tratadística e objectos construídos) e pela invenção de
novas soluções compositivas e estruturais, que
colmatassem as falhas da transmissão do saber
arquitectónico. Assim, a primeira fase de evolução do
estilo renascentista consistiu na introdução de elementos
aproximadamente clássicos em estruturas góticas. Estes
elementos não obedeciam nem no cânon nem, na
hierarquia da composição, ao sistema clássico,
assemelhando-se apenas na forma. Numa segunda fase
da evolução do estilo podemos observar a sistematização
dos cânones e do desenho dos elementos compositivos.
Finalmente, a arquitectura renascentista de meados do
século XVI (cinquecento) caracteriza-se pela ordem
sistemática dos elementos na composição, à qual não é
alheia, contudo, uma moderada subversão da geometria, e
da organização espacial em função da perspectiva.
Foi da interpretação moderna da arquitectura da
Antiguidade clássica que surgiu o classicismo. Este
haveria de se desenvolver sobretudo na Itália,
permanecendo como fenómeno dominante da arquitectura
francesa até meados do século XVII.
Em Portugal, durante o reinado de D. João III assistiu-se
à intensificação de uma política cultural, e a corte
tornou-se cada vez mais dominada pela autocracia. A
arquitectura, para além do seu valor próprio, tornou-se
instrumento de expressão do poder real através do
mecenato régio.
A cultura quinhentista está na origem de uma escola de
urbanismo português, que apareceu ainda incipientemente
no reinado de D. Manuel como expressão de modernidade
e demonstração de poder, com a abertura de ruas e
redefinição de praças. Contudo, no reinado de D. João III, o
urbanismo correspondeu ao ideário renascentista e a uma
política cultural específica (abertura da Rua da Sofia, em
Coimbra). Se bem que as transformações urbanísticas
sejam devidas a estas novas concepções de poder, parece
haver razões essenciais para estas modificações.
Enquanto na Itália do Renascimento, a busca do
classicismo incide na pesquisa da arquitectura e do
urbanismo mítico da antiguidade e da cidade ideal
configurando uma arquitectura mediterrânica, em Portugal,
busca-se uma modernidade que se socorre de um
classicismo para fixar o exotismo das descobertas e das
cidades a descobrir, buscando realizar uma arquitectura
atlântica, e uma cidade utópica, tal como a entendia
Moore.
A crescente divulgação da tratadística, aliada à expansão
ultramarina, permitiu experimentações construídas das
cidades ideais renascentistas na Índia e no Brasil. Foi
então que a engenharia militar deixou de ocupar um lugar
preponderante na construção do urbanismo português,
ocupando-se apenas de cidades muralhadas e de
construções exclusivamente militares. Foi justamente esta
possibilidade de experimentação (Angra do Heroísmo,
Bairro Alto, etc., com planos ortogonais), no Continente e
no Ultramar, que permitiu a criação de uma tradição
urbanística portuguesa (que fundamentou o plano da Baixa
pombalina). O manuelino, que se estende ao reinado de D.
João III, foi progressivamente menosprezado em função do
então chamado romano, que também em Portugal se
apresentou destituído de fundamentação teórica e apenas
fixado pela introdução de elementos classicizantes (ou
aproximadamente clássicos) em estruturas ainda
pertencentes ao formulário gótico. A frequente confusão
entre estas soluções, que parece indicar um modo próprio
e uma maneira característica da resolução formal de
elementos clássicos, deve-se então ao desconhecimento
dos cânones clássicos e do seu sistema espacial. Assim,
não é qualificável como maneirismo senão o fenómeno
intencional e deliberado de subversão dos cânones e da
forma classicista do Renascimento, ou segundo um
processo de citação e jogo de forma e proporção, no
sentido de impor uma nova concepção de arquitectura e de
espacialidade, que oscila entre o (des)conhecimento das
cidades e edifícios da Antiguidade, apenas conhecidos
pelas descrições dos autores antigos, e a necessidade de
reinventar esses modelos, conjugando a leitura criativa dos
tratados com a imaginação criadora e a subversão do
universo já conhecido. Portanto, a introdução de elementos
classicizantes e a permanência de estruturas góticas nos
edifícios coevos de D. João III corresponde a um esforço no
sentido do Renascimento e não do maneirismo; no sentido
da modernidade, mas não no da subversão.
Ao valorizar a planimetria centralizada no sentido de lhe
conceder uma determinada intencionalidade simbólica e
erudita, relacionando o objecto de arquitectura com valores
conceptuais que determinam o contexto filosófico
renascentista (antropocentrismo, simbólica dos sólidos
platónicos e das construções geométricas ideais), o
Reanascimento constrói também um paradoxo entre os
valores cristãos, até então associados à catedral gótica, e
o paganismo desta nova arquitectura que concebe a igreja
como um templo - mais próximo dos templos da
Antiguidade que da ecclesia medieval. De facto, os
exemplos mais conhecidos de planta centralizada em
Portugal acusam esse simbolismo, relacionado ainda com
a tratadística. A ermida de Santo Amaro de Alcântara
reporta-se a Serlio; o claustro do Jardim da Manga
(relacionado talvez com o Tempietto de San Pietro in
Montorio, de Bramante) é a materialização da alegoria do
paraíso bíblico e a igreja do convento do Bom Jesus de
Valverde, de Évora, fazendo uso da serliana e de toda a
simbologia renascentista (o círculo como símbolo da
perfeição divina, a cúpula relacionada com a cúpula
celeste, o octógono como figura geométrica de transição
entre o quadrado e o círculo, etc.), apresenta-se com a
pureza e a perfeição formal da planimetria e das
proporções. De facto, a arquitectura distanciou-se do
entendimento imediato da sua relação com o quotidiano:
invocava um simbolismo apenas compreensível por
iniciados e fazia uso de esquemas espaciais diferentes
dos conhecidos nas catedrais góticas, relacionando-se
com outro tipo de percursos, fundamentando-se no
simbolismo da forma e não da sua aparência (sempre
despojada), ornamentando-se de esquemas geométricos
que resultam da escrupulosa repartição do volume ou da
planimetria. Em Portugal, a cidade de Coimbra foi o seu
principal centro difusor (congregou exemplos e artistas).
O retábulo apresenta-se como peça original e essencial do
Renascimento ibérico e da Renascença coimbrã. Objecto
que contém em potência todo um sistema fenomenológico
e de inúmeras possibilidades de ensaio da arquitectura
como miniaturização, apresenta-se como sucessor das
construções miniaturadas da ourivesaria sacra e dos
túmulos do gótico final, proporcionando a experimentação
e veiculando um novo gosto. Se o estilo chão tende para a
simplicidade e para a ausência total de ornamento, em
Coimbra essa desornamentação não ocorre, reunindo e
adaptando o ornamento renascentista tradicional à nova
corrente subversiva do maneirismo. O ornato maneirista,
adequado ou não ao objecto de arquitectura de suporte,
caracteriza-se sobretudo pela influência flamenga.
O comércio com a Flandres intensificou-se também no
plano das ideias, através dos escritos de Erasmo,
influenciando a política de D. João III, no sentido do
humanismo cristão, que paradoxalmente não deixa de
desenvolver soluções de militarismo no campo político e de
propiciar o desenvolvimento da arquitectura militar. A
importância deste saber prático tornou-se cada vez mais
importante com o passar do tempo, vindo a caracterizar os
estilos portugueses pela sua simplicidade engenhosa, no
recurso a poucos meios e uma rara capacidade de síntese.
A Arte do Renascimento
Designação aplicada à produção artística associada ao
movimento ocorrido na arte europeia dos séculos XV e XVI.
Este movimento foi iniciado em Florença (Itália), com o
surgimento de um espírito humanista e uma nova
apreciação do passado das civilizações clássicas de
Grécia e Roma. Em pintura e escultura, esta nova
abordagem deu origem a um maior naturalismo e ao
interesse pela anatomia e perspectiva. O século XV é
identificado com o Renascimento clássico. O
Renascimento pleno (início do século XVI) engloba as
obras de Leonardo da Vinci, Rafael, Miguel Ângelo e
Ticiano, em Itália, e Dürer, na Alemanha.
O maneirismo (decorrendo entre 1520 e 1590,
aproximadamente) modelou o período final do
Renascimento pleno. O Renascimento foi anunciado pela
obra do pintor Giotto (Florença), no início do século XIV
(fase também designada por proto-Renascimento). No
início do século XV, ocorreu a emergência de novos valores
e artistas inovadores como Masaccio (pintura), Donatello
(escultura) e Brunelleschi (arquitectura). Simultaneamente,
o filósofo e escritor humanista (também artista plástico)
Leon Baptista Alberti registou muitas das novas ideias nos
seus tratados sobre pintura, escultura e arquitectura.
Estas novas ideias rapidamente se disseminariam por toda
a Itália, originando muitos novos centros culturais, sob a
protecção de patronos. No século XVI, Roma ultrapassava
Florença como pólo de actividade criativa e inovadora,
tornando-se a capital do Renascimento pleno. Na Europa
setentrional, o espírito renascentista revelou-se na pintura
dos irmãos van Eyck, no início do século XV.
Posteriormente, Dürer afirmaria um espírito científico e
uma grande curiosidade intelectual, levando para a
Alemanha os ideais do Renascimento, após as suas
viagens a Itália, e impondo novos cânones de
representação da figura humana. Por outro lado, artistas
como Cellini, Rosso Fiorentino e Primaticcio introduziram
novos modelos renascentistas em França, através do seu
trabalho em Fontainebleau. Hans Holbein, o Jovem, levaria
também a Inglaterra alguns dos novos princípios artísticos,
no século XVI.
Em Portugal, já no reinado de D. João I, verificava-se o
contacto de artistas portugueses com as inovações
técnicas e estéticas então emergentes em Itália, assim
como a existência de artistas italianos (ou de formação
italiana) convidados a trabalhar em Portugal. Porém, o
gosto renascentista atingiu o seu auge sobretudo a partir
de inícios do século XVI, reflectindo também influências
flamengas e mesmo alemãs. Na arquitectura, são exemplo
do gosto italiano a Casa dos Bicos, em Lisboa (1523). No
estilo manuelino encontram-se elementos renascentistas
(como no claustro do mosteiro dos Jerónimos). Entre os
arquitectos portugueses ou activos em Portugal
contavam-se João e Diogo de Castilho, João de Ruão e
Diogo de Torralva (Convento de Tomar), Francisco de
Arruda (que trabalhou na torre de Belém), Miguel de Arruda
(capelinha da Penha Verde, em Sintra, e igreja da Graça,
em Évora), Manuel Pires e António Rodrigues. Na
escultura, destacaram-se alguns estrangeiros, como João
de Ruão, Chanterenne, Hodarte, João Alemão. Entre os
portugueses encontravam-se Diogo Pires, o jovem
(túmulos de João da Silva, o velho, e de Aires da Silva),
Diogo de Castilho, Tomé Velho (capela de São Teotónio,
na sala do capítulo de Santa Cruz de Coimbra). Os
túmulos reais são das obras de escultura mais
significativas deste período.
Na pintura (a área de maior destaque no Renascimento
nacional), destacam-se as obras atribuídas a Nuno
Gonçalves (como o célebre políptico de São Vicente) e
ainda os nomes de Vasco Fernandes (da oficina de Viseu),
Francisco Henriques (painéis da igreja de São Francisco
de Évora), Frei Carlos, o mestre anónimo autor dos painéis
do convento de Tomar (que provavelmente não seria
português), o dito "mestre do sardoal", Jorge Afonso,
Garcia Fernandes e Cristóvão de Figueiredo. Ainda, neste
período, ganhou relevo a arte do retrato. Surgida entre nós
no século XV, era símbolo de cultura humanista (exemplo
do retrato de D. João I e dos retratos dos painéis de São
Vicente). Em Portugal, durante este período,
desenvolveram-se ainda a iluminura (Leitura Nova, série de
livros encomendados por D. Manuel); a cartografia, a que
se aplicaram frequentemente iluminuras (Família Reinel,
Fernão Vaz Dourado), e o vitral (Luís Dias), de que se
encontram exemplos no mosteiro da Batalha, centro que
fez escola. Nas artes decorativas, destacam-se a célebre
Custódia de Belém, o relicário de D. Leonor, várias peças
de baixela e a tapeçaria (série da Descoberta da Índia,
reflexo do período histórico de então, conjugando épica e
exotismo). Estas artes reflectiam, em geral, um gosto
sumptuário da corte. De referir são ainda as várias artes
resultantes do contacto português com outros povos,
como a chamada arte indo-portuguesa ou a arte
luso-africana, que se reflecte nas mais variadas formas de
criação artística.