Rococó

Movimento artístico surgido em França no século XVIII,
dando origem , na arte e na arquitectura, a um estilo
caracterizado por uma certa leveza a delicadeza no seu
acentuado decorativismo. O "rococó" derivou do rocaille
(designação adoptada dos trabalhos ornamentais
executados com conchas ou pedras), um estilo de
decoração de interiores baseado numa linearização
curvilínea e em elementos naturalistas. Pertencem à voga
francesa do rococó as obras de Jean-Antoine Watteau e a
porcelana de Sèvres, por exemplo. Na década de 1730, o
movimento foi divulgado através da Europa, revelando-se,
nomeadamente, nas igrejas e palácios do sul da Alemanha
e da Áustria. O mobiliário Chippendale é uma versão
inglesa do estilo rococó francês.

Outras características do rococó são o uso de dourados e
ornamentos assimétricos, com pormenores naturalísticos
elegantes e a pintura mural, com delicadas cenas pastoris
e representações ilusionísticas. A concepção
arquitectónica e dos interiores do pavilhão Amalienburg,
perto de Munique (Alemanha) e o pavilhão do hôtel de
Soubise, em Paris (França), são típicos do movimento. Os
pintores François Boucher e Jean Honoré Fragonard
pintaram ambos painéis decorativos tipicamente rococó
para hôtels (casas apalaçadas) parisienses. Em Portugal,
o rococó ficou associado às obras arquitectónica de
Mateus Vicente de Oliveira (palácio de Queluz) e de André
Soares (palácio do Raio, em Braga), com maior expressão
no norte do país.

Em Portugal

o rococó surgiu no reinado de D. João V,
inicialmente por influência de artistas franceses que
estiveram no país. Outra fonte importante foram as
gravuras e estampas alemãs, sobretudo no norte de
Portugal (região do Minho), onde o rococó se implantou
mais vigorosa, exuberante e originalmente, como se pode
constatar pelas obras do arquitecto André Soares (Palácio
do Raio, Igreja da Madalena). De resto, o rococó assumiu
em Portugal feições regionais distintas: em Lisboa, por
exemplo, conviveram o rococó da corte (Palácio de
Queluz) e o classicismo pombalino; no Alentejo, o
neoclassicismo, impôs-se rapidamente. O rococó
prolongou-se ainda nos reinados seguintes, com vestígios
mesmo no século XVI.


Pintura Rococó

Na pintura as transformações são completas. Tudo quanto o barroco possuía de teatral, heróico e dramático, realista e popular, tudo isso se transforma ou desaparece, substituído pela graciosidade decorativa, fantasia e erotismo, aristocratismo e mundanidade.
As transformações começam pelos temas. Desaparecem praticamente a pintura religiosa, os acontecimentos sagrados narrados dramaticamente, os martírios cruéis, os calvários sangrentos, as virgens e madalenas agoniadas e soluçantes, olhos levantados aos céus, os êxtases torturantes. Agora, os temas são outros, frívolos, mundanos e galantes. Tudo vai falar quase que exclusivamente das graças da mulher. São cenas de boudoir ou de alcova, de salão ou de interiores luxuosos, festas e reuniões em parques e jardins, em suma, o cotidiano da aristocracia, ociosa e fútil, pastorais idílicas e sobretudo nus femininos. O século é o da mulher, cujas graças jamais tinham sido cantadas como souberam cantá-las Watteau, Fragonard e Boucher, os franceses que melhor representam essa pintura. As virgens dolorosas, as madalenas aflitas, os apóstolos e santos compungidos, as paisagens e os céus tempestuosos dos barrocos são substituídos por Vênus e ninfas, amorzinhos petulantes, marqueses e marquesas maneirosos, festas e reuniões em jardins e paisagens de sonho. Quando as cenas bíblicas aparecem são também aristocratizadas.
Também a técnica se transforma na pintura. Não são mais as pinceladas impulsivas e pastosas do barroco, nem as massas sintéticas e tumultuosas, muito menos os violentos contrastes de claro-escuro e as cores intensas para as sugestões de drama.
São pinceladas rápidas, leves e curtas, desenho decorativo, tonalidades claras e luminosas em que predominam os rosas, azuis, verdes e lilases, delicados e feéricos. Os pintores tornam-se exímios na representação dos tecidos finos, sedas e brocados achalamotados, tafetás e veludos, vaporosidade das gases e musselinas e das carnações femininas.
Uma das particularidades da época, diz Louis Réau, é o aparecimento de retratistas femininos, que rivalizam com os homens e forçam as portas da Academia. Também o gosto da prática das artes, da música, da pintura e da gravura, na alta sociedade. A Marquesa de Pompadour, por exemplo, estudava desenho e gravura com o pintor Boucher. Discutia problemas de técnica e de expressão, dava opiniões, como se fosse artista profissional e vivesse daquilo. Quer dizer, sofria sofrimentos de artista.
Outra particularidade da época é a generalização da técnica do pastel. O pastel, em última instância, é um giz colorido, pastoso e aderente, feito com terras bem moídas. Aplica-se o pastel sobre papel rugoso ou com a superfície áspera, adrede preparada, para recebe-lo e fixa-lo, ou mesmo sobre camurça. Há pastéis mais duros, próprios para acentuar as partes do desenho, outros mais brandos, para as massas de cor. O pastel foi verdadeira moda no século XVIII, especialmente no retrato, pois se presta com facilidade à expressão de certos efeitos de delicadeza e leveza dos tecidos, maciez da pele feminina, sedosidade dos cabelos, de luzes e brilhos. Quase todos os grandes pintores rococós foram também pastelistas. É bastante significativo que naquele século de estuques, espelhos, porcelanas, rendas, nudez feminina e minueto, jardins e comédias galantes, a técnica de pintura mais apreciada fosse justamente o pastel, que, como estuque nas decorações arquitetônicas e a porcelana na escultura decorativa, caracteriza-se pela fragilidade e efemeridade.
Nos seus temas e técnicas, como podemos ver, as artes rococós estão revelando, ao bom entendedor, a fragilidade e efemeridade da classe cujos interesses e espírito tão fielmente souberam expressar - a aristocracia, que está para desaparecer na convulsão sangrenta da grande revolução burguesa, quando o século dourado acabará. Assim é que os artistas profetizam e denunciam, com maior nitidez, as transformações da sociedade do que mesmo rigorosas conclusões dos cientistas sociais. Os artistas sempre forma premonitórios, isto é, sempre avisaram, sempre estão avisando. Esta faculdade artística parece indispensável ao verdadeiro estadista, que deve ver mais longe do que o comum dos governados. Os grandes reformadores sociais são, neste sentido, grandes artistas.
Esta a lição dos fatos da história das artes. Enquanto os ideólogos da monarquia absoluta a proclamavam eterna, pela vontade divina, os artistas do rococó a denunciavam com a mesma fragilidade, efemeridade e feminilidade de estuque, da porcelana e do minueto.
[TOPO]

Pintura Francesa no Século XVIII

A pintura Francesa apresenta no século XVIII três aspectos diferentes. Na primeira metade do século, em substituição aos modelos do academismo da escola bolonhesa dos Carracci, predomina o gênero nitidamente rococó, a chamada pintura fêtes galantes, graciosa luminosa e fantasista, tão bem representada por Watteau e Fragonard.
Na segunda metade do século volta o academismo clássico, agora diretamente inspirado na antigüidade greco-romana e nos mestres renascentistas italianos,. Os temas mundanos e galantes do rococó estão sendo substituídos pelos temas históricos, patrióticos e moralizadores da nova tendência, que se chamará neoclassicismo e marcará artisticamente o primeiro quartel do século XIX.
O terceiro aspecto é a corrente realista, influenciada pelos realistas barrocos holandeses e flamengos, continuadora da escola dos irmãos Le Nain. São artistas que fixam cenas da pequena burguesia e da vida provinciana, entre cujos representantes se destaca Jean Baptiste Chardin.
Desse modo, no balanço final, as três direções da pintura francesa no século XVIII são - rococó, realismo e neoclassicismo. As duas últimas, o neoclassicismo e o realismo, vão se tornar dominadoras e características no século XIX, com as escolas fundadas por David e Coubert. Quase todo o século XVIII será mais nitidamente rococó.




Artistas do rococó

Na arquitetura destaca-se Gabriel-Germain Boffrand (1667-1754) e Johann Balthasar Neumann (1687-1753).

NEUMANN (Johann Balthasar), arquiteto e engenheiro alemão (Cheb, Boêmia, 1687 - Würzburg, 1753). Mestre do ilusionismo barroco. Entre suas obras principais estão o palácio de residência de Würzburg e a igreja dos Vierzehnheiligen (14 santos), na Baviera.

Gabriel, extremamente popular na Paris do Século 18, construía casas para a aristocracia francesa, preocupando-se sempre com a harmonização entre a construção e a decoração de seu interior ao estilo rococó.

Um dos exemplos mais conhecidos de seu trabalho é o Salon de la Princesse no Hôtel de Soubise (1732).

Trata-se de uma rica sala de recepção numa casa particular, em que elementos como janelas e espelhos são usados para dar a sensação de amplitude e fragmentar a luz.

É fantástica a integração entre as formas arquitetônicas e a decoração e pinturas presentes na moradia.

Arquitectura


Na arquitetura, o rococó adquiriu importância principalmente no sul da Alemanha e na França. Suas principais características são uma exagerada tendência para a decoração carregada, tanto nas fachadas quanto nos interiores. As cúpulas das igrejas, menores que as das barrocas, multiplicam-se. As paredes ficam mais claras, com tons pastel e o branco. Guarnições douradas de ramos e flores, povoadas de anjinhos, contornam janelas ovais, servindo para quebrar a rigidez das paredes. O mesmo acontecia com a arquitetura palaciana.

A expressão máxima do rococó na arquitetura palaciana são os pequenos pavilhões e abrigos de caça dos jardins. Construídas para o lazer dos membros da corte, essas edificações, decoradas com molduras em forma de argolas e folhas transmitiam uma atmosfera de mundo ideal. Para completar essa imagem dissimulada, surgiam no teto, imitando o céu, cenas bucólicas em tons pastel.A arquitetura dos irmãos Asam é fundamental dentro do rococó. Em sua série de igrejas do sul da Alemanha, a decoração se sobrepõe à estrutura e o interior sobre o exterior do edifício, de planejamento mais modesto. O paradígma do salão rococó é a Kaisersaal do Palácio de Wurzburg, onde a ornamentação chega a um grau de extravagância quase quebradiça, tamanha a minúcia. Através de ornatos ilusionistas e figuras escultóricas que voam, as paredes quase desaparecem, num efeito mágico de leveza.









Barroco

Nas artes visuais, na arquitectura, e na música, estilo que
floresceu na Europa, entre 1600-1750, caracterizado por
uma grande expressividade, exuberância e dinamismo de
linhas. Representando um papel importante nas acções de
"cruzada" da contra-reforma católica, o barroco recorreu a
efeitos muito elaborados, de modo a apelar directamente
às emoções dos espectadores das obras, particularmente
nas vertentes da arquitectura e da arte sacra. Algumas das
obras mais significativas deste período, nas áreas da
escultura, pintura, artes decorativas e arquitectura (como
as da autoria de Bernini: a capela Cornaro, em Santa
Maria della Vittoria, Roma, onde se encontra a sua
escultura O Êxtase de Santa Teresa, 1645-1652) foram
concebidas para produzir efeitos de grande dramatismo.
Muitas das obras-primas do barroco surgem nos palácios
e igrejas de Roma, embora o estilo se tenha disseminado
pela Europa, alterando-se as suas características iniciais
ao longo da sua divulgação, com acréscimos regionalistas.
Em Portugal, o barroco implantou-se mais tarde do que na
generalidade dos outros países europeus, atingindo o
apogeu na época de D. João V. É de referir a "exportação"
deste estilo para territórios do império colonial português,
como o Brasil ou a Índia. Por comparação com o resto da
Europa, foi conferida uma atenção especial a artes menos
monumentais, tais como a azulejaria, a ourivesaria, a
cerâmica ou o mobiliário.

Arquitectura

Na arquitectura, o estilo barroco emergiu como uma
ruptura com as convenções rígidas do classicismo
prevalecente no renascimento italiano: as linhas rectas
deram lugar a linhas curvilíneas e quebradas; a decoração
tornou-se um elemento mais importante e complexo e os
espaços tornaram-se mais elaborados na sua concepção.
O seu impacto era realçado pelo dramatismo dos jogos
das volumetrias e de luz e sombra. Os projectos
arquitectónicos apresentavam agora escalas bastante
grandiosas, como é visível na piazza de Bernini para a
catedral de São Pedro de Roma. Entre os arquitectos mais
importantes do barroco europeu encontram-se: Bernini,
Francesco Borromini, Pietro da Cortona, Baldassare
Longhena e Giovanni Guarini, em Itália; Louis Le Vau e
Jules Hardouin-Mansart, em França; e Christopher Wren,
Nicholas Hawksmoor, e John Vanbrugh, em Inglaterra. Em
Portugal, é de destacar o trabalho de arquitectos
estrangeiros, como Ludovice. Exemplares importantes são
a Biblioteca da Universidade de Coimbra (de arquitecto
desconhecido, talvez o entalhador Gaspar Ferreira); no
norte do país, o barroco associou-se mais ao gosto local;
destacam-se, no Porto, a Igreja, Casa e Torre dos Clérigos
(do italiano Nasoni) e, em Braga, o Santuário do Bom
Jesus (de Manuel Pinto de Vilalobos).

Pintura


Na pintura, Caravaggio, com o seu ousado uso da luz e
da sombra, aplicado em poderosas composições, foi um
dos primeiros expoentes do novo estilo, embora os
Carracci e Guido Reni se tenham tornado símbolos mais
característicos do período inicial do barroco, com as suas
composições grandiosas de tectos, em pinturas
ilusionísticas, enquadradas na exuberante decoração
vegetalista da arquitectura de interiores. Os trabalhos de
Pietro da Cortona e Il Guercino exemplificam por outro lado
o período do barroco pleno, na sua maturidade estilística.
Na Flandres católica, o barroco ficou representado pela
obra de Pieter Paul Rubens e Anthony van Dyck e, em
Espanha, por Diego Velázquez e José Ribera. Na Holanda
protestante, onde o mecenato artístico se tinha deslocado
das hierarquias religiosas para as classes médias,
salienta-se Rembrandt, Jan Vermeer e Frans Hals. Em
Portugal, a pintura revelou a influência romana.
Salientaram-se as figuras de Vieira Lusitano, André
Gonçalves, Jerónimo da Silva, António Lobo, Domingos
Vieira e Josefa de Óbidos. Na pintura de tectos,
destacou-se o italiano Baccarelli.

Escultura

Na escultura, o mestre do barroco foi Bernini, cujo Êxtase
de Santa Teresa representa exemplarmente a exuberância
emocional da escultura da época. A influência de Bernini
fez-se sentir em Portugal. Destacaram-se, para além de
alguns estrangeiros, os nomes de José de Almeida,
Jacinto Vieira, Manuel Dias e Machado de Castro (com a
estátua equestre de D. José I). A ireja de Arouca conserva
um conjunto significativo de esculturas religiosas barrocas.
Muito sucesso teve igualmente a talha de madeira,
dourada ou em policromia, distinguindo-se Santos
Pacheco, José de Almeida, Jacinto da Silva e Manuel
Quaresma. Um bom exemplo desta arte é a capela-mor da
Igreja de Santa Catarina, em Lisboa. Nas artes
decorativas, o azulejo atingiu o seu período de máximo
esplendor. Foi utilizado no revestimento interior de igrejas,
a par com a talha dourada, explorando-se assim efeitos de
contraste cromático. Importantes foram os nomes de
Oliveira Bernardes (vários elementos de uma mesma
família), Agostinho de Paiva, António Pereira, Manuel dos
Santos, André Gonçalves, entre outros. As peças de
ourivesaria eram sumptuosas, sobretudo no reinado de D.
João V, sendo muitas delas de arte sacra (como a famosa
custódia da Capela da Bemposta).

Música

Na música, pode considerar-se que o barroco remonta à
Camerata, uma sociedade de poetas e músicos que
fizeram reviver elementos do teatro grego, desenvolvidos na
ópera barroca, em Florença. Claudio Monteverdi e Giovanni
Gabrieli, foram dois nomes importantes no período inicial
da música barroca, introduzindo efeitos polifónicos. A
sonata, a suite e o concerto grosso emergiram nesta
época. As formas da música vocal da ópera de oratória e
da cantata foram também desenvolvidas. Entre os
compositores do barroco encontram-se Girolamo
Frescobaldi e Antonio Vivaldi, em Itália, Johann Pachelbel
e J. S. Bach, na Alemanha, e Georg Handel, em Inglaterra.
Em Portugal, a música barroca atingiu o apogeu com
Francisco António de Almeida, Carlos Seixas e João de
Sousa Carvalho, no século XVIII.

O historiador de arte suíço Jacob Burckhardt foi o primeiro
a usar o termo "barroco", no sentido de "bizarro",
"irregular", tendo o termo, no entanto, sido absorvido pela
linguagem da história da arte.

A Escultura Barroca

Na escultura é de assinalar o desenvolvimento de um género de composição grupal chamado de "sacro monte", concebido pela Igreja e rapidamente difundido por outros países. Trata-se de um conjunto que reproduz a Paixão de Cristo ou outras cenas piedosas, com figuras policromas em atitudes realistas e dramáticas em um arranjo teatralizado, e destinadas a comover o público.Deste instrumental pedagógico católico fazia parte ainda a construção de cenários nos quais eram inseridas as estátuas a fim de criar ainda maior ilusão de realidade, numa concepção verdadeiramente teatral. Às vezes tais grupos eram confeccionados de forma a poderem ser movidos e transportados sobre carros em procissões, criando-se uma nova categoria escultórica, a das estátuas de roca em madeira. Para aumentar o efeito mimético muitas possuíam membros articulados, para que pudessem ser manipuladas como marionetes, assumindo uma gestualidade eficiente e evocativa, variável de acordo com o progresso da ação cênica. Recebiam roupagens que imitavam as de pessoas vivas, e pintura que assemelhava à carne humana. E para maior ilusão seus olhos podiam ser de vidro ou cristal, as cabeleiras naturais, as lágrimas de resina brilhante, os dentes e unhas de marfim ou osso, e a preciosidade do sangue das chagas dos mártires e do Cristo flagelado podia ser enfatizada com a aplicação de rubis. Assim, nada melhor para coroar a participação do público devoto na re-criação da realidade mística do que permitir que a ação se desenrolasse em espaço aberto, na procissão, onde a movimentação física do fiel ao longo do trajeto poderia propiciar a estimulação da pessoa como um todo, diferentemente da contemplação estática diante de uma imagem em um altar. Nos casos em que o "sacro monte" deveria ser levado às ruas, usualmente era simplificado a uma sugestão de rochas ou numa gruta. Conforme a ocasião, a gruta ou rocha poderiam representar o Monte Sinai, o Monte Tabor, o Monte das Oliveiras, a Gruta da Natividade, a rocha da Tentação de Cristo ou outros locais impregnados de significado. Algumas vezes o cenário rochoso era substituído por outro arquitetônico, especialmente após o trabalho de Andrea Pozzo, codificador da perspectiva ilusionística arquitetônica que foi largamente empregada na decoração de templos católicos. Com os mesmos fins práticos, para aliviar o peso do conjunto, as imagens eram entalhadas apenas parcialmente, com acabamento só nas partes que deveriam ser vistas pelo público, como as mãos, cabeça e pés, e o restante do corpo consistia em uma simples estrutura de ripas ou armação oca coberta pela roupa de tecido.


A escultura barroca caracterizou-se pela idéia de grande atividade e movimento. Esta impressão foi criada pela combinação cuidadosa de massa e espaço, e o recurso a novos materiais, tais como estuque e gesso. Foram especialmente imaginativas as esculturas barrocas alemã e austríaca. Na Itália, Gian Lourenzo Bernini executou fontes e retábulos de altares, Os escultores do barroco brasileiro usaram quase sempre como material de trabalho a madeira e a pedra-sabão - abundante na região mineira -, criando belíssimos púlpitos, talhas em altares-mores, pedestais, nichos, pias batismais e imagens.
Por vários motivos, o clímax do desenho barroco pode ser visto na criação de vastos jardins, como os do palácio de Versalhes, onde o homem parecia ser o controlador absoluto da natureza. Os jardins barrocos realçaram o lado dramático do uso da água em cascatas, fontes e canais.

Maneirismo

Movimento estético europeu, que marca, a par do renascimento, um afastamento consciente dos modelos clássicos, e que decorre entre a segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII, nascido primeiro em Florença e Roma e depois estendido a outros países europeus. O maneirismo (do italiano maniera, a maneira ou estilo de um artista) traduzia a marca estética de um artista. A maniera de pintar de Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci e Rafael tornara-se um paradigma para toda a pintura europeia. O termo também servia para designar um estilo de época e não apenas uma estética individual, como na expressão maniera greca. "O Juízo Final", fresco executado por Miguel Ângelo para a parede da Capela Sistina (1534-41), representou uma das primeiras pinturas no espírito da Contra-Reforma e anunciava já uma espiritualidade que fugia ao cânone clássico renascentista. Exigia-se agora renovar essa forma de pintar, imitando a maniera dos mestres anteriores, o que será tentado por génios como os italianos Carracci, Caravaggio e Tintoretto e o espanhol el Greco. É num momento de crise cultural que a Europa que a arte procura novas formas de expressão para além das convenções clássicas que o renascimento havia consagrado. A sensibilidade artística maneirista exigia uma maior liberdade de movimentos para que as tensões do espírito, as convições religiosas mais profundas e os sentimentos mais arrebatados pudessem também ser objecto de inspiração, num momento em que a Europa se encontrava dividida pelos efeitos da reforma luterana e em que o homem não mais se apresenta como a única grandeza a glorificar. O caminho escolhido foi o da estilização exagerada, ou uma forma de levar a maniera ao extremo da sua representação, abandonando as linhas harmoniosas impostas pelo estilo vigente, criando labirintos, espirais e proporções inesperadas. O regresso aos ângulos e aos alogamentos das figuras que distinguiram o estilo gótico é outra das marcas do maneirismo, como observou Georg Weise, que recusa a tradicional acepção de uma única tendência para o exagero das formas e afectação dos temas. A arquitectura privilegia agora a construção de igrejas amplas, de plano longitudinal, e descobrindo novas formas de distribuição da luz e da decoração. Na escultura, o maneirismo parte da maniera de Miguel Ângelo, para lhe acrescentar um novo conceito intelectual da arte pela arte e para permitir o distanciamento da realidade observada. O exagero no detalhes das composições maneiristas já anuncia aquilo que será a estética barroca, que se afirmará por volta de 1600, e remetendo o maneirismo à condição de estética decadente, cuja notoriedade só o século XX vai redescobrir.

Os estudiosos do maneirismo dividem-se entre os que o consideram um movimento de transição entre o renascimento e o barroco e os que preferem defini-lo como um movimento autónomo, com regras próprias. Na literatura, é evidente que o Camões das Rimas trabalha um estilo diferente, marcado pela conceptualização, pela afectação das ideias e pelo fingimento poético. Sonetos bem conhecidos como Amor é fogo que arde sem se ver ilustram bem a estética maneirista, muito estigmatizada pelos desgostos de amor, pela desilusão da vida, pelos infortúnios pessoais e por constantes sofrimentos íntimos que parecem ser a única fonte de inspiração dos poetas. O poeta maneirista é um vencido da vida. Perdeu a esperança no futuro e no progresso e só se compraz na dor do amor nunca realizado. Esta nota pessimista que se lê em muitos poemas não é explicável fora do contexto político, religioso e social que se vivia na Europa após a Contra-Reforma.

Os estudos literários só vão prestar atenção ao maneirismo a partir do estudo fundamental de Ernst Robert Curtius (Literatura Europeia e Idade Média Latina, Bern, 1948; Rio de Janeiro, 1957), que o considera não um período estático da história literária mas antes uma espécie de paradigma documentável ao longo dos tempos: “O que é toda a obra de James Joyce senão uma gigantesca experiência maneirística? O trocadilho (pun) é um dos seus pilares de sustentação. Quanto maneirismo há em Mallarmé, e quão de perto o maneirismo toca o hermetismo da poesia contemporânea!” (Literatura Europeia e Idade Média Latina, trad. de Paulo Rónai e Teodoro Cabral, EDUSP, São Paulo, 1996, p. 374). A tese maneirista de Curtius é tão abrangente como a tese de Eugenio d’Ors para o barroco: não falamos de períodos literários definidos com exactidão na linha do tempo, mas falamos de paradigmas intemporais que se podem manifestar em qualquer artista de qualquer época. Estas teses valeram aos seus autores severas críticas, porque intepretam as estéticas literárias como a pura soma de estilos ou linguagens que se repetem como um padrão em autores de épocas distintas. Aguiar e Silva, no seu estudo doutoral sobre o maneirismo na lírica portuguesa, observa que “a caracterização do maneirismo estabelecida por Curtius apresenta outro grave erro metodológico no estudo de um estilo ou de um período literários: restringe-se a factos de estilo, considerados em abstracto, sem os relacionar com valores humanos de qualquer espécie (religiosos, éticos, existenciais).” (Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa, Centro de Estudos Românicos, Coimbra, 1971, p.11). O trabalho de Aguiar e Silva para recuperar o lugar devido do maneirismo, tanto dentro da teorização literária como na história literária portuguesa, foi já uma resposta positiva a um desafio antes tentado por Jorge de Sena no princípio da década de 1960, quando reclamou um lugar próprio para o maneirismo, cujos intérpretes, na literatura portuguesa seriam: “primacialmente Camões, o Soropita que foi o primeiro a editar-lhe as "rimas," Vasco Mousinho de Quevedo, Manuel da Veiga Tagarro, Balta­zar Estaco, Francisco de Andrade, Jerónimo Corte Real, Luís Pereira Brandão, Fernão Álvares do Oriente, Pêro da Costa Perestrelo, Eloi de Sá Soto Maior, Diogo Bemardes, André Falcão de Rezende, Fr. Bernardo de Brito, Rodrigues Lobo, Fr. Agostinho da Cruz. E D. Francisco Manuel de Melo, amigo de Quevedo, será, em pleno barroquismo de que é alto expoente, o último dos maneiristas também.”


O Maneirismo português


O Maneirismo português começou em meados do séc. XVI até ao início do séc. XVIII.

O Maneirismo foi um estilo e um movimento artístico europeu de retoma de certas expressões da cultura medieval que, aproximadamente os anos de entre 1515 e 1610, constituíram manifesta reação contra os valores clássicos prestigiados pelo humanismo renascentista. O termo surge da expressão a maniera de, usada para se referir a artistas que faziam questão de imprimir certas marcas individuais em suas obras e procuravam efeitos bizarros que já apontam para a arte moderna, como o alongamento das figuras humanas e os pontos de vista inusitados.

Como sempre decorreu na história da arte portuguesa, foi devido a influências externas que este movimento se desenvolveu em Portugal. Em relação ao Maneirismo, houve dois factores fundamentais: os tratados de Vignola e Serlio que forneciam uma ampla informação das ideias principais do movimento; e a difusão do modelo da igreja jesuíta, funcional, de linhas simples, pela Companhia de Jesus. Fontes de inspiração italianas, francesas, flamengas e castelhanas também colheram-se de artistas nacionais na Itália, como Francisco de Holanda, etc., na presença de mestres estrangeiros, como Chanterene, etc., na circulação de quadros e gravuras especialmente flamengas (Cornelius, etc.), na edição de Tratados (Medidas del Romano, etc.) na divulgação dos ensinos teóricos de Herrera, de Palladio, etc., e nos motivos ornamentais das artes gráficas.

Após o Alto Renascimento, aparece o primeiro Maneirismo arquitectónico na reconstrução da capela dos Jerónimos (1540-41, Diogo de Torralva), no claustro principal do convento de Tomar, etc. Aparece depois a igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa (1582, Filippo Terzi), edifício dominante do século XVII, durante o qual se construiram numerosos templos maneiristas: Sé Nova de Coimbra, de Baltasar Álvares, São Bento no Porto, de Diogo Marques. Genericamente, a arquitectura do exterior apresenta sobriedade, contrapondo-se a um interior extravagante decorado com azulejos, talha dourada em escultóricos altares, no caso das igrejas, nos palácios por baixelas, faianças porcelanas e mobiliário. Na Índia constróem-se a Catedral de Velha Goa (1597-1631) e a igreja da Graça (1597-1602) e em Macau a igreja inaciana, de directa inspiração italiana.

O Maneirismo português percorreu três etapas fundamentais de evolução que são: a inicial, onde são absorvidos os modelos de influência italiana; a do desenvolvimento do modo de trabalhar à maniera italiana ("Triunfo da Bela Maneira"); a da necessidade de um discurso coerente, organizado e activo defensor dos valores da Contra-Reforma. A clientela maneirista era constituída pelo monarca, pela nobreza clerical ou leiga, pelos municípios e pelas misericórdias.

A influência das gravuras flamengas aparece já em Vasco Fernandes (Pentecostes), mas é o grupo de mestres da oficina lisboeta de Jorge Afonso que, com o Mestre de São Quintino, constitui a primeira geração de pintura maneirista portuguesa: Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo e Garcia Fernandes, que legou obra extensa, anti-renascentista. Na escultura, o novo estilo desponta com mestres franceses e flamengos radicados em Coimbra, que formam discípulos (Tomé Velho, Jerónimo de Ruão) e expandes a arte dos túmulos e altares, e a estatuária de pedra em que a figura aparece por vezes agitada Hodarte.

Renascimento

Período da história cultural europeia que se iniciou na Itália à volta de 1400 e se prolongou até ao final do século XVI. Em outros pontos da Europa, teve uma aparição mais tardia, durando até ao século XVII. É característica do Renascimento a descoberta do mundo e do indivíduo, bem como a redescoberta (iniciada por Boccaccio e Petrarca) da Antiguidade clássica pagã. Eram elementos centrais do Renascimento o conceito de humanismo, a crença na vida activa, em vez da contemplativa, e uma fé nos ideais republicanos.

A maior expressão do Renascimento está patente nas artes e no saber. Alberti, nos seus escritos sobre arte, criou um método de pintura, que advogava o uso da perspectiva para provocar a ilusão da tridimensionalidade, e estabeleceu também uma nova temática não religiosa e de inspiração clássica. Na arquitectura, criou, através dos seus textos e dos seus edifícios, um sistema de proporções simples que iria ser seguido ao longo de centenas de anos. Masaccio e Bruneleschi, seus contemporâneos, exemplificaram essas ideias na pintura e na arquitectura, respectivamente. Quanto à produção artística, os críticos e historiadores de arte consideram o período entre 1490-1520 como um ponto alto (o "Renascimento pleno "), com as obras de Leonardo da Vinci, Rafael, e Miguel Ângelo, na pintura, e Miguel Ângelo e Bramante, na arquitectura. O apogeu da pintura veneziana viria alguns anos depois, com Ticiano, Veronese e Tintoretto. Leonardo tem sido descrito como um "homem universal" devido à grande abrangência dos seus estudos e actividades, que incluíram a pintura, a arquitectura, a ciência e a engenharia. As grandes realizações dos artistas foram possíveis graças ao mecenato de poderosas famílias, como os Sforza, em Milão, e os Médicis, em Florença, ou do doge de Veneza e ainda de papas como Júlio II e Leão X. Na literatura, tanto Boccaccio como Petrarca escreveram importantes obras em italiano, em vez de latim, uma orientação que foi continuada com a criação de poemas épicos em vernáculo por Ariosto e Tasso. A evolução do religioso para o secular tornou-se visível na criação das primeiras bibliotecas públicas e nas muitas traduções de clássicos, publicadas em Veneza no século XVI. Na filosofia, a redescoberta do pensamento grego tomou a forma do neoplatonismo, associado a figuras como Marsilio Ficino. Maquiavel fundou, com a sua obra O Príncipe, os alicerces do moderno estudo da política.

Fora da Itália, a arte e as ideias renascentistas espalharam-se por toda a Europa. Erasmo, nos Países Baixos, encarnou a erudição humanista europeia; entre os pintores da Europa setentrional contavam-se Dürer e Holbein. Em França, alguns dos escritores renascentistas foram Rabelais, Du Bellay e Montaigne; em Espanha, Cervantes, em Portugal, Camões, e em Inglaterra, Shakespeare.


O termo "renascimento", como definição de um período da história cultural, foi introduzido por historiadores do século XIX. Nas artes, o fim do Renascimento foi marcado por um movimento ocorrido nos finais do século XV — o maneirismo; reagindo contra as convenções rígidas entretanto estabelecidas, caracterizou-se pela tendência para um alongamento deliberado da figura humana e uma distorção propositada das perspectivas. Contudo, o verdadeiro fim dos ideais renascentistas só viria a dar-se com a ascensão do iluminismo, nos finais do século XVII.

A ideia de Renascimento

O historiador de arte Vasari aplicou o termo italiano rinascita (renascimento) ao período ascencional da arte a partir de Giotto. Este critério já tinha sido muitas vezes antecipado, se bem que nunca de forma sistemática; mas foi apenas a crítica de arte do século XIX que adoptou este conceito para caracterizar o desenvolvimento da cultura italiana do século XIV até aos princípios do século XVI. Esta a razão que levou a que um fenómeno distintamente italiano fosse estranhamente baptizado com um termo de origem francesa: renaissance, ainda hoje se mantendo em alguns sistemas classificativos o termo "renascença". Para Michelet, a designação significava a descoberta do mundo e do indivíduo, ideias popularizadas por Burckhardt no seu famoso livro A Civilização do Renascimento em Itália (1860). Essencial a esse processo era a redescoberta da Antiguidade clássica e, como esta era por definição pagã, a sua revivificação, acompanhada pela descoberta do indivíduo, tingiu toda a visão do Renascimento como anti-medieval e anti-cristão. Assim, segundo o mesmo entendimento, ao mundo cristão da Idade Média seguir-se-ia uma era esplêndida na esfera cultural, mas pagã, logo suspeita nas suas qualidades morais e destinada a um castigo condigno simbolizado pelas catástrofes que assolaram a Itália nos finais do século XV.
Naturalmente, houve quem por isso lamentasse e vituperasse o Renascimento, ou fosse mais longe, negando a sua importância ou mesmo a sua existência. Para além dessas críticas marginais e para aqueles que ainda afirmam a importância crucial do Renascimento italiano, as opiniões extremamente simples dos críticos do século XIX foram alvo de modificações, contrariando-se claramente a afirmação das consequências pagãs da ressurreição da Antiguidade clássica. A base deste argumento é a figura de Petrarca: mesmo numa leitura mais superficial, é evidente o seu temperamento resolutamente cristão, tornando-se óbvio que o movimento de humanismo que dele parte não pode ter nem uma face nem uma orientação anti-cristã. Apesar de ainda estar preso à desconfiança medievo-cristã em relação às coisas deste mundo, Petrarca acaba por, tanto a partir da sua leitura dos pais da igreja como de Cícero, proclamar a providencialidade do mundo, destinado à vida dos humanos e não à sua renúncia pelos mesmos. Assim, Petrarca inicia uma visão essencialmente positiva da humanidade na sua existência terrena.


o século XV em Florença


Através de Boccaccio e especialmente do historiador Coluccio Salutati (1331-1406), as ideias de Petrarca entraram em Florença nos finais do século XIV, inspirando aquilo a que se chamou um "humanismo cívico", a crença no valor da vida activa, em vez da contemplativa, expressa na defesa florentina da causa da liberdade republicana. Antes do surgimento de Petrarca, a autoridade cristã residia na figura de São Jerónimo, citando-se Sancta quippe rusticitas solum sibi prodest, ut ille ait ("Atendendo a que a ingenuidade sagrada apenas se beneficia a si própria, como ele diz"). Petrarca tornou-se por sua vez uma autoridade, resultando dessa confirmação a actividade dos educadores humanistas, dos quais se destacaram Guarino da Verona (1374-1460) e Vittorino da Feltre (1378-1446), e os muitos tratados da primeira metade do século XV, sobre o tema da dignidade da humanidade. O melhor exemplo destes tratados é um trabalho da autoria de Giannozzo Manetti (1369-1459), Sobre a Dignidade e Excelência do Homem (1451-1952), com o seu lema para o humanismo da época: Agere et intelligere (fazer e compreender). Nada poderia indicar de melhor maneira o temperamento do quattrocento italiano, na sua ânsia de acção e conhecimento.

Petrarca

Se bem que florentino de origem, Petrarca foi criado na
Provença, devido ao exílio do seu pai. Assim, beneficiou do
processo pelo qual clérigos italianos, com a aprovação de
eclesiásticos franceses, iam tendo acesso às velhas
bibliotecas das catedrais francesas. Petrarca iria encontrar
a obra de Lívio quase completa em Avinhão, procedendo
ao restauro do texto, entretanto sujeito à acção do tempo.
Embora Petrarca nunca tenha alardeado esses seus
estudos, eles constituíram uma das fontes da recuperação
crítica da herança clássica no século XV, apesar de
apenas secundar Boccaccio na retoma de contacto com o
há muito perdido mundo da literatura e erudição gregas.
Petrarca recriou uma ideia de latinidade clássica, iniciando
a recuperação e a revisão de textos antigos que foi
continuada no início do século XV. Esta tarefa foi
executada com tal entusiasmo que, especialmente no
caso da literatura em latim, já se encontrava virtualmente
completa no primeiro quartel do século XV, com a geração
de Poggio Bracciolini (1380-1459), um dos mais bem
sucedidos descobridores de manuscritos clássicos
encerrados nas bibliotecas monásticas.

Alberti e as artes visuais


Enquanto o impulso literário veio de Petrarca, coube a
outro florentino, apenas um século mais tarde, legislar as
artes. Leon Battista Alberti vinha também de uma família
exilada de Florença, mas o forte impacto da cena florentina
quando lá regressou, por volta de 1430, fê-lo dedicar-se à
prática e à teoria artísticas. Como nenhum tratado de
pintura nos chegou da Antiguidade, Alberti é o primeiro a
transmitir ideias neste campo. O seu Da Pintura (1435)
codifica e aclara a conquista florentina da representação
espacial na pintura, fazendo do mundo real o tema da
própria pintura, visto como que através de uma janela, com
a ilusão tridimensional criada por uma perspectiva assente
em bases matemáticas. Esta revolução na abordagem
erradicou a arte religiosa dos góticos e bizantinos, mais
simplista nos seus fundos dourados e nas suas cores
primárias e puras. Em consonância com a renovação da
forma, Alberti garantiu também uma renovação temática.
Para ele, uma "história" é o que a pintura inclui, e cita
como exemplo a Calúnia de Apeles, uma das poucas
pinturas da Antiguidade de que há registo. E assim, ao
lado da dominante arte eclesiástica da Idade Média,
nasceu a pintura secular do Renascimento.

Alberti não é menos revolucionário no seu estabelecimento
de novas regras da arquitectura. Nesta área, foi tanto
arquitecto (o palácio Rucellai em Florença, o templo
Malatestiano em Rimini) como teórico. Ao contrário do que
acontecia com a pintura, tinham sobrevivido trabalhos de
autores como Vitrúvio, um teórico antigo. O conceito de
Renascimento, apenas como culto e imitação da
Antiguidade, é apresentado no livro de Alberti, Da
Arquitectura (1452). Mas, tal como revela na fachada de
Santa Maria Novella (1472), em Florença, um profundo
respeito pelos elementos da gramática do gótico, na
escrita, Alberti mostra-se notavelmente independente de
Vitrúvio. Procurava mais princípios do que regras e
estabeleceu, juntamente com o conceito da arquitectura
como actividade, uma trilogia humanística de necessidade,
comodidade e deleite.

Tal implica, claro, a substituição de alguns elementos de
grandes dimensões, reduzidos a um todo simétrico pelo
uso de um módulo básico e de proporções simples que
pareciam a Alberti comuns à arquitectura, à música, e à
ordem subjacente a toda a natureza. Pondo fim à
multiplicidade de elementos que era emblemática da
arquitectura gótica, Alberti propôs uma arquitectura
racional e, através de uma ligação muito natural,
associou-a à revivificação do idioma clássico, associação
talvez menos lógica do que acreditava; mas, assim como
se revelaria da maior importância para a futura arquitectura
de toda a Europa, esta associação foi também da maior
conveniência. De uma só vez, a arquitectura ganhou uma
linguagem universal, a que não faltavam colunas (que eram
para Alberti o mais nobre dos ornamentos) e ordens
clássicas, com elementos modulares capazes de permitir
inúmeras variações, característica que iria revelar-se de
grande utilidade não só ao longo do período do
Renascimento, dentro da própria Itália, mas no restante
território europeu e, posteriormente, no continente
americano até aos finais do século XIX.

Assim como podemos dizer que Alberti codificou o que já
acontecia na pintura florentina com Masaccio, também
podemos dizer que na arquitectura codificou e, mais ainda,
classicizou o que tinha sido iniciado com Brunelleschi. A
teoria pictórica de Alberti abriu caminhos que iriam ser
percorridos até ao impressionismo, se bem que devamos
incluir neste percurso uma contribuição vital por parte dos
pintores flamengos, que se tornaram conhecidos e
apreciados na Itália no século XV, graças aos contactos
estabelecidos através do comércio da lã. Os flamengos
tinham chegado de forma empírica ao uso da perspectiva e
trouxeram a nova técnica de pintura a óleo, que influenciou
em especial a arte colorista de Veneza. Mas, do ponto de
vista da arquitectura, a teoria de Alberti subjaz ao próprio
Renascimento e a períodos e estilos subsequentes, como
o barroco, o rococó e o neoclassicismo.

Estes foram os contributos de Florença para aquela que foi
a era, primeiro, do humanismo e, depois, do
Renascimento. Na Itália, o feudalismo nunca se
estabeleceu de forma firme e devido às fraquezas das duas
autoridades de carácter "universal", o império e o papado,
algumas cidades estabeleceram a sua autonomia e
prosperaram com a primazia italiana no comércio e na
banca. Foi numa Florença enriquecida pelo comércio da lã
e da seda e pela banca que as novas ideias se puderam
desenvolver. Como estas condições eram já existentes, tal
significa que não existe uma linha de divisão única entre a
Idade Média e o Renascimento, havendo vários tipos de
sobreposições entre os dois. De facto, para Vasari, o
momento do Renascimento das artes é 1250,
considerando Giotto o instrumento desta mudança,
coincidindo a data com a primeira forte afirmação da
primazia florentina na Toscânia.

o século XV noutras cidades italianas

Florença foi a representante da era e do espírito das
comunas, que contudo tendiam naturalmente a dar lugar a
famílias dirigentes. Em Florença, os Médicis tornaram-se
virtualmente príncipes a partir de 1434 e, sob a égide de
Lorenzo Medici, o Magnífico, os novos aspectos da cultura
floresceram num ambiente cortês. Esta situação repetiu-se
noutras cortes de Itália, nomeadamente com os Gonzaga,
em Mântua, os Este, em Ferrara, os Sforza, em Milão,
Federigo da Montefeltro, em Urbino, e Alfonso de Aragão,
em Nápoles. A procura de manuscritos clássicos
estendeu-se até Bizâncio e, com a queda do Império do
Oriente, em 1453, vieram juntar-se à influência grega no
saber renascentista as contribuições de eruditos de
regiões orientais. Entre estes destacou-se o cardeal
Bessarion (c.1403-1472), cujo legado da sua biblioteca
pessoal veio ajudar na fundação da grande Biblioteca de
São Marcos, em Veneza. Antes desta, em Florença, a
primeira biblioteca pública da Europa tinha sido
estabelecida pelos Médicis, em San Marco. Tudo isto fez
parte de um processo através do qual a erudição, em
tempos exclusivamente monástica, se tornou secular.

A secularização do saber conheceu grandes avanços com
a invenção, na Alemanha, em meados do século XV, da
imprensa com tipos móveis. A imprensa foi importada para
a Itália por volta de 1460, sendo rapidamente adoptada,
especialmente em Veneza que, pelo menos durante um
século, se tornou no centro do comércio livreiro europeu.
Antes da época da imprensa, o papa Nicolau XV havia
encorajado a tradução para latim dos autores gregos que
então estavam a ser descobertos. Mas, na viragem do
século, Aldus Manutius, o famoso tipógrafo e impressor
romano estabelecido em Veneza, forneceu à Europa as
editiones principes (primeiras edições impressas) da
literatura grega e, com a sua adopção do tipo itálico, em
1501, uma série completa de textos simples e em
pequenos formatos da literatura clássica e moderna. As
fundações do mundo moderno assentaram nesta nova, e
até aí impensável, disponibilidade do saber para todos.

A Arte do Renascimento Pleno

Do ponto de vista artístico, o século XV era já
esplendoroso: de Masaccio, Donatello e Botticelli a Piero
della France, Cosimo Tura e Andrea Mantegna. Mas, com
o início do século XVI e com os pontificados de Júlio II e
Leão X, Roma passou a ser um centro artístico, com
pontos altos deste período nas obras de Miguel Ângelo e
Rafael. A par destes dois encontra-se um terceiro génio —
Leonardo da Vinci que, nunca tendo estado em Roma,
ligou-se a Lodovico Sforza, em Milão, findando a sua vida
em 1519, em França, onde se encontrava a convite de
Francisco I. O trabalho em pintura de Leonardo torna-se
ainda mais precioso por ser escasso e pela fragilidade das
telas, devido às suas experiências pictóricas. Para Vasari,
estes três artistas significaram o culminar de uma
ascensão contínua, iniciada no século XIV: trouxeram uma
aura de grandeza quase sobre-humana à arte italiana, ideia
que não se desvaneceu desde então. Dada a extensão e
diversidade dos seus conhecimentos, Leonardo tem
sempre sido encarado como o exemplo do conceito
renascentista do "homem universal".

o Renascimento em Veneza

Veneza tinha-se mantido algo afastada dos padrões
gerais, virando-se para o exterior, graças ao seu comércio
com o Levante, e para o passado, devido às suas ligações
com o Império do Oriente. Todavia, esta cidade iria dar um
passo em frente, com a geração de Aldus a dominar o
comércio livreiro. Com as obras de Bellini e Giorgione,
conquistou neste domínio um lugar comparável ao de
outras cidades, quanto à pintura renascentista. Apesar da
cruel crise da guerra de Cambrai, em 1508, Veneza
conseguiu sobreviver à queda das liberdades italianas e ao
advento do absolutismo com Carlos V (a partir de 1530).
Permaneceu uma cidade próspera e livre, ao longo século
XVI, e manteve o esplendor artístico com Ticiano,
Veronese e Tintoretto, bem como com o mais influente de
todos os arquitectos do Renascimento, Andrea Palladio. E
se, em geral, o ano de 1530 pode ser considerado como
uma espécie de término do Renascimento em Itália, no
caso de Veneza, a data pode ser avançada até cerca de
1600.

A ideia do cavalheiro renascentista

Tal como é pouco rigoroso analisar o Renascimento em
termos de um contraste simples e claro com a Idade
Média, como fizeram Michelet e Burckhardt, ele também
não deve ser tomado como um todo uniforme. Ao período
do humanismo cívico sucedeu o domínio dos Médicis em
Florença. Nos contactos feitos com eruditos orientais,
quando o Conselho de Florença procurava reconciliar as
igrejas do Ocidente e do Oriente, num último esforço para
afastar a ameaça dos turcos, Cosimo de Médicis sentiu-se
atraído pela figura de Platão. Daí resultaram o seu
mecenato em relação a Marsílio Ficino e o nascimento da
Academia Platónica. Ficino tornou-se discípulo de Platão,
defendendo o neoplatonismo.

Talvez por coincidência, mas de forma adequada a uma
corte, o ideal contemplativo voltou, mais uma vez, a
substituir o activo. Este ideal foi alargado a toda a Europa
através de um livro que espelhava a mais nobre das cortes
italianas, a de Urbino: O Livro do Cortesão, de Baldassar
Castiglione. Publicada em 1528 (ou seja, após o saque de
Roma de 1527), esta obra contém uma visão nostálgica
dos princípios civilizacionais cultivados em Urbino, no
tempo de Federigo da Montefeltro, num dos mais belos
palácios principescos. Além de expor à Europa, nas suas
conclusões, as ideias do neoplatonismo, mais do que o
estatuto do cortesão definia o ideal do cavalheiro. Nenhum
outro livro deste tipo conseguiu concentrar tão bem os
ideais do Renascimento italiano.

Religião e ciência renascentistas

Lorenzo Valla revelou-se a mais penetrante mente crítica
do século XV. Enquanto filologista, abriu caminho a
Poliziano e ambos tornaram-se figuras respeitadas pelos
eruditos clássicos modernos. Como autor de Elegantiae
(1435-1944), Valla revelou os modos de se atingir um estilo
latino mais puro. Erasmo publicou as Adnotationes in
Novum Testamentum (Notas sobre o Novo Testamento) de
Valla, onde o que parecia uma forma de crítica sacrílega
era pela primeira vez aplicada à própria "palavra de Deus".
Valla foi tomado como um predecessor pelos pensadores
da Reforma, mas a sequência cronológica do
Renascimento que precedeu a Reforma não implica
necessariamente causa e efeito, não sendo possível
estabelecer elos firmes entre as duas situações. Da
mesma forma, é duvidoso estabelecer que a noção de
progresso científico esteja enraizada no Renascimento
italiano. Na verdade, Toffanin defendeu a tese de que a
ascensão do humanismo sufocou as ciências em favor de
fenómenos literários. A imprensa de caracteres móveis foi
inventada pelos alemães, Copérnico era de origem polaca
e Francis Bacon precedeu Galileu, que deu à Itália um
sucesso científico já no século XVII, fora dos limites
cronológicos normalmente estabelecidos para o
Renascimento.

Educação

O objectivo da educação renascentista era produzir o "ser
humano completo" (o uomo universale), com formação
em estudos humanísticos, matemática e ciência (incluindo
as suas aplicações na guerra), nas artes e ofícios, na
aptidão física e nos desportos; alargar os limites do saber
e do conhecimento geográfico; encorajar o
desenvolvimento do cepticismo e do livre-pensamento, bem
como o estudo e a imitação da literatura e arte gregas e
latinas. O estudo dos clássicos não era considerado
incompatível com os princípios cristãos, no entanto as
mulheres recebiam pouca instrução formal.

Pensamento político e história

Foi no pensamento político e na escrita histórica que a
Itália esteve mais claramente adiantada em relação à
Europa. Leonardo Bruni, chanceler de Florença (e um dos
humanistas cívicos da era de Salutati), escreveu em latim
uma grande História do Povo Florentino, que representou
um corte com a tradição cronista medieval (renunciando a
qualquer noção de providência divina na história) e
antecipou por um século o trabalho de Maquiavel e
Guicciardini. O Príncipe (1503) de Maquiavel foi muito mal
compreendido, mas constituiu a pedra de toque da
discussão política, enquanto as suas Histórias Florentinas
e, mais ainda, a História da Itália (1537-1940) de
Francesco Guicciardini são documentos fundamentais da
moderna escrita histórica.

o Renascimento e a literatura vernácula

O facto de tanto Guicciardini como Maquiavel terem escrito
no vernáculo é prova de que as teorias novecentistas,
segundo as quais o humanismo sufocava, com a sua face
fria e imitativa, o veio nativo da literatura, estavam erradas.
Na verdade, uma forte corrente vernácula perpassou todo o
século XV e foi reconhecida e encorajada por muitos
humanista, como Bruni ou Alberti. Figuras como Lorenzo,
o Magnífico, e Poliziano retomaram conscientemente a
poesia vernácula e os géneros sobreviventes foram
enriquecidos pelo contacto com a poesia clássica. Tal é
claro no caso de Ariosto, cujo Orlando Furioso (1532) é o
poema mais popular do século XVI. Por fim, no início do
século XVI surgiu Pietro Bembo (1470-1547), concedendo
ao vernáculo um estatuto semelhante ao da própria língua
latina. O seu Prose della volgar lingua (Prosas da Língua
Vulgar), de 1525, fez do toscano o idioma literário
inquestionável de toda a Itália e abriu o caminho a outras
obras, em outros países, como a Deffense et Illustration
de la Langue Françoise (Defesa e Ilustração da Língua
Francesa) de Joachim Du Bellay, ou a Defense of Poesie
(Defesa da Poesia) de Philip Sidney.

o Renascimento fora de Itália

O impacto do humanismo e do Renascimento italiano no
resto da Europa foi variado. Erasmo, mais do que qualquer
outra figura isolada, encarnou a erudição humanista na
Europa setentrional. Encontrou e publicou, em 1505, as
Adnotationes in Novum Testamentum (Notas sobre o Novo
Testamento) de Lorenzo Valla, começando assim a
ciência da crítica aos textos bíblicos. A geração de
Erasmo reconheceu as três línguas eruditas: latim, grego e
hebreu. Esta última foi acrescentada por mérito especial
de Pico della Mirandola, um prodígio de erudição que se
ergueu a par de Ficino na renovação de atitudes, durante a
segunda metade do quattrocento, em Florença. Este ideal
do collège trilingue iria inspirar Rabelais, na França do
início do século XVI. Também a obra de Montaigne, com a
sua formação puramente latina, o seu vasto conhecimento
dos autores latinos e o seu interesse pelo indivíduo, seria
impensável sem o fundo do Renascimento.

Quando Carlos VIII invadiu a Itália em 1494, o impacto da
cena artística italiana nos meios franceses foi muito forte,
levando a que a arte e os artistas italianos se
espalhassem pela França. Além de Leonardo, outros
artistas italianos como Primaticcio ou Niccolò dell'Abate
trabalharam para Francisco I, em Fontainbleau, exercendo
uma influência decisiva na escola de Fontainebleau.
Francisco I também empregou uma das figuras essenciais
do Renascimento — Benvenuto Cellini. Os efeitos na arte
francesa prolongaram-se de forma irregular até ao século
XVII, com Claude Lorrain e Poussin, e os princípios da
arquitectura italiana tiveram sempre de fazer concessões
às fortes tradições arquitectónicas francesas.

O Renascimento chegou tardiamente a Portugal e,
inicialmente, por via francesa. A característica específica
mais importante do Renascimento português é a sua
ligação à expansão marítima, que permitiu, não só ao país,
mas a toda a Europa, um conhecimento do mundo sem
paralelo até então e que se repercutiu nas artes, nas
ciências e na literatura. Simultaneamente, o paço real -
nomeadamente nos reinados de D. Manuel I e D. João III -
impulsionou os estudos de portugueses nas universidades
da Europa, pondo-os em contacto com as mentalidades e
os conhecimentos renascentistas. Muitos destes
estudiosos vieram depois a difundir as novas ideias como
professores das universidades de Lisboa e Coimbra. Esta
última viu mesmo o seu plano de estudos alterado,
proporcionando uma maior atenção ao humanismo,
privilegiado também no Colégio Real das Artes, então
fundado. Na filologia, o humanismo deu azo a uma série de
estudos sobre o português e a uma renovação do léxico e
da sintaxe que definiram uma nova fase da língua. Por
outro lado, a experiência prática da vida no ultramar
proporcionou um surto importante de literatura científica (D.
João de Castro, Garcia de Orta), de viagens (Fernão
Mendes Pinto, Pêro Vaz de Caminha) e também de
historiografia (Diogo do Couto, Fernão Lopes de
Castanheda). Outros grandes representantes do novo
espírito foram João de Barros, Damião de Góis, António
Ferreira e Camões (embora a literatura do último tenha já
influências do maneirismo). O estabelecimento da
Inquisição, em 1547, e o movimento da contra-Reforma
vieram impor severas restrições à actividade artística
portuguesa, situação agravada pela perda da
independência, em 1580, que implicou o desaparecimento
da corte de Lisboa (grande centro cultural do país), abrindo
caminho à decadência do espírito que animara esta
renovação.


Arquitectura do Renascimento


A arquitectura na Europa do Renascimento caracterizou-se
genericamente pela redescoberta do sistema de
composição clássico. Em Itália, o quattrocento foi
marcado pela investigação das fontes clássicas (literatura,
tratadística e objectos construídos) e pela invenção de
novas soluções compositivas e estruturais, que
colmatassem as falhas da transmissão do saber
arquitectónico. Assim, a primeira fase de evolução do
estilo renascentista consistiu na introdução de elementos
aproximadamente clássicos em estruturas góticas. Estes
elementos não obedeciam nem no cânon nem, na
hierarquia da composição, ao sistema clássico,
assemelhando-se apenas na forma. Numa segunda fase
da evolução do estilo podemos observar a sistematização
dos cânones e do desenho dos elementos compositivos.
Finalmente, a arquitectura renascentista de meados do
século XVI (cinquecento) caracteriza-se pela ordem
sistemática dos elementos na composição, à qual não é
alheia, contudo, uma moderada subversão da geometria, e
da organização espacial em função da perspectiva.

Foi da interpretação moderna da arquitectura da
Antiguidade clássica que surgiu o classicismo. Este
haveria de se desenvolver sobretudo na Itália,
permanecendo como fenómeno dominante da arquitectura
francesa até meados do século XVII.

Em Portugal, durante o reinado de D. João III assistiu-se
à intensificação de uma política cultural, e a corte
tornou-se cada vez mais dominada pela autocracia. A
arquitectura, para além do seu valor próprio, tornou-se
instrumento de expressão do poder real através do
mecenato régio.

A cultura quinhentista está na origem de uma escola de
urbanismo português, que apareceu ainda incipientemente
no reinado de D. Manuel como expressão de modernidade
e demonstração de poder, com a abertura de ruas e
redefinição de praças. Contudo, no reinado de D. João III, o
urbanismo correspondeu ao ideário renascentista e a uma
política cultural específica (abertura da Rua da Sofia, em
Coimbra). Se bem que as transformações urbanísticas
sejam devidas a estas novas concepções de poder, parece
haver razões essenciais para estas modificações.
Enquanto na Itália do Renascimento, a busca do
classicismo incide na pesquisa da arquitectura e do
urbanismo mítico da antiguidade e da cidade ideal
configurando uma arquitectura mediterrânica, em Portugal,
busca-se uma modernidade que se socorre de um
classicismo para fixar o exotismo das descobertas e das
cidades a descobrir, buscando realizar uma arquitectura
atlântica, e uma cidade utópica, tal como a entendia
Moore.

A crescente divulgação da tratadística, aliada à expansão
ultramarina, permitiu experimentações construídas das
cidades ideais renascentistas na Índia e no Brasil. Foi
então que a engenharia militar deixou de ocupar um lugar
preponderante na construção do urbanismo português,
ocupando-se apenas de cidades muralhadas e de
construções exclusivamente militares. Foi justamente esta
possibilidade de experimentação (Angra do Heroísmo,
Bairro Alto, etc., com planos ortogonais), no Continente e
no Ultramar, que permitiu a criação de uma tradição
urbanística portuguesa (que fundamentou o plano da Baixa
pombalina). O manuelino, que se estende ao reinado de D.
João III, foi progressivamente menosprezado em função do
então chamado romano, que também em Portugal se
apresentou destituído de fundamentação teórica e apenas
fixado pela introdução de elementos classicizantes (ou
aproximadamente clássicos) em estruturas ainda
pertencentes ao formulário gótico. A frequente confusão
entre estas soluções, que parece indicar um modo próprio
e uma maneira característica da resolução formal de
elementos clássicos, deve-se então ao desconhecimento
dos cânones clássicos e do seu sistema espacial. Assim,
não é qualificável como maneirismo senão o fenómeno
intencional e deliberado de subversão dos cânones e da
forma classicista do Renascimento, ou segundo um
processo de citação e jogo de forma e proporção, no
sentido de impor uma nova concepção de arquitectura e de
espacialidade, que oscila entre o (des)conhecimento das
cidades e edifícios da Antiguidade, apenas conhecidos
pelas descrições dos autores antigos, e a necessidade de
reinventar esses modelos, conjugando a leitura criativa dos
tratados com a imaginação criadora e a subversão do
universo já conhecido. Portanto, a introdução de elementos
classicizantes e a permanência de estruturas góticas nos
edifícios coevos de D. João III corresponde a um esforço no
sentido do Renascimento e não do maneirismo; no sentido
da modernidade, mas não no da subversão.

Ao valorizar a planimetria centralizada no sentido de lhe
conceder uma determinada intencionalidade simbólica e
erudita, relacionando o objecto de arquitectura com valores
conceptuais que determinam o contexto filosófico
renascentista (antropocentrismo, simbólica dos sólidos
platónicos e das construções geométricas ideais), o
Reanascimento constrói também um paradoxo entre os
valores cristãos, até então associados à catedral gótica, e
o paganismo desta nova arquitectura que concebe a igreja
como um templo - mais próximo dos templos da
Antiguidade que da ecclesia medieval. De facto, os
exemplos mais conhecidos de planta centralizada em
Portugal acusam esse simbolismo, relacionado ainda com
a tratadística. A ermida de Santo Amaro de Alcântara
reporta-se a Serlio; o claustro do Jardim da Manga
(relacionado talvez com o Tempietto de San Pietro in
Montorio, de Bramante) é a materialização da alegoria do
paraíso bíblico e a igreja do convento do Bom Jesus de
Valverde, de Évora, fazendo uso da serliana e de toda a
simbologia renascentista (o círculo como símbolo da
perfeição divina, a cúpula relacionada com a cúpula
celeste, o octógono como figura geométrica de transição
entre o quadrado e o círculo, etc.), apresenta-se com a
pureza e a perfeição formal da planimetria e das
proporções. De facto, a arquitectura distanciou-se do
entendimento imediato da sua relação com o quotidiano:
invocava um simbolismo apenas compreensível por
iniciados e fazia uso de esquemas espaciais diferentes
dos conhecidos nas catedrais góticas, relacionando-se
com outro tipo de percursos, fundamentando-se no
simbolismo da forma e não da sua aparência (sempre
despojada), ornamentando-se de esquemas geométricos
que resultam da escrupulosa repartição do volume ou da
planimetria. Em Portugal, a cidade de Coimbra foi o seu
principal centro difusor (congregou exemplos e artistas).

O retábulo apresenta-se como peça original e essencial do
Renascimento ibérico e da Renascença coimbrã. Objecto
que contém em potência todo um sistema fenomenológico
e de inúmeras possibilidades de ensaio da arquitectura
como miniaturização, apresenta-se como sucessor das
construções miniaturadas da ourivesaria sacra e dos
túmulos do gótico final, proporcionando a experimentação
e veiculando um novo gosto. Se o estilo chão tende para a
simplicidade e para a ausência total de ornamento, em
Coimbra essa desornamentação não ocorre, reunindo e
adaptando o ornamento renascentista tradicional à nova
corrente subversiva do maneirismo. O ornato maneirista,
adequado ou não ao objecto de arquitectura de suporte,
caracteriza-se sobretudo pela influência flamenga.

O comércio com a Flandres intensificou-se também no
plano das ideias, através dos escritos de Erasmo,
influenciando a política de D. João III, no sentido do
humanismo cristão, que paradoxalmente não deixa de
desenvolver soluções de militarismo no campo político e de
propiciar o desenvolvimento da arquitectura militar. A
importância deste saber prático tornou-se cada vez mais
importante com o passar do tempo, vindo a caracterizar os
estilos portugueses pela sua simplicidade engenhosa, no
recurso a poucos meios e uma rara capacidade de síntese.

A Arte do Renascimento

Designação aplicada à produção artística associada ao
movimento ocorrido na arte europeia dos séculos XV e XVI.
Este movimento foi iniciado em Florença (Itália), com o
surgimento de um espírito humanista e uma nova
apreciação do passado das civilizações clássicas de
Grécia e Roma. Em pintura e escultura, esta nova
abordagem deu origem a um maior naturalismo e ao
interesse pela anatomia e perspectiva. O século XV é
identificado com o Renascimento clássico. O
Renascimento pleno (início do século XVI) engloba as
obras de Leonardo da Vinci, Rafael, Miguel Ângelo e
Ticiano, em Itália, e Dürer, na Alemanha.

O maneirismo (decorrendo entre 1520 e 1590,
aproximadamente) modelou o período final do
Renascimento pleno. O Renascimento foi anunciado pela
obra do pintor Giotto (Florença), no início do século XIV
(fase também designada por proto-Renascimento). No
início do século XV, ocorreu a emergência de novos valores
e artistas inovadores como Masaccio (pintura), Donatello
(escultura) e Brunelleschi (arquitectura). Simultaneamente,
o filósofo e escritor humanista (também artista plástico)
Leon Baptista Alberti registou muitas das novas ideias nos
seus tratados sobre pintura, escultura e arquitectura.
Estas novas ideias rapidamente se disseminariam por toda
a Itália, originando muitos novos centros culturais, sob a
protecção de patronos. No século XVI, Roma ultrapassava
Florença como pólo de actividade criativa e inovadora,
tornando-se a capital do Renascimento pleno. Na Europa
setentrional, o espírito renascentista revelou-se na pintura
dos irmãos van Eyck, no início do século XV.
Posteriormente, Dürer afirmaria um espírito científico e
uma grande curiosidade intelectual, levando para a
Alemanha os ideais do Renascimento, após as suas
viagens a Itália, e impondo novos cânones de
representação da figura humana. Por outro lado, artistas
como Cellini, Rosso Fiorentino e Primaticcio introduziram
novos modelos renascentistas em França, através do seu
trabalho em Fontainebleau. Hans Holbein, o Jovem, levaria
também a Inglaterra alguns dos novos princípios artísticos,
no século XVI.

Em Portugal, já no reinado de D. João I, verificava-se o
contacto de artistas portugueses com as inovações
técnicas e estéticas então emergentes em Itália, assim
como a existência de artistas italianos (ou de formação
italiana) convidados a trabalhar em Portugal. Porém, o
gosto renascentista atingiu o seu auge sobretudo a partir
de inícios do século XVI, reflectindo também influências
flamengas e mesmo alemãs. Na arquitectura, são exemplo
do gosto italiano a Casa dos Bicos, em Lisboa (1523). No
estilo manuelino encontram-se elementos renascentistas
(como no claustro do mosteiro dos Jerónimos). Entre os
arquitectos portugueses ou activos em Portugal
contavam-se João e Diogo de Castilho, João de Ruão e
Diogo de Torralva (Convento de Tomar), Francisco de
Arruda (que trabalhou na torre de Belém), Miguel de Arruda
(capelinha da Penha Verde, em Sintra, e igreja da Graça,
em Évora), Manuel Pires e António Rodrigues. Na
escultura, destacaram-se alguns estrangeiros, como João
de Ruão, Chanterenne, Hodarte, João Alemão. Entre os
portugueses encontravam-se Diogo Pires, o jovem
(túmulos de João da Silva, o velho, e de Aires da Silva),
Diogo de Castilho, Tomé Velho (capela de São Teotónio,
na sala do capítulo de Santa Cruz de Coimbra). Os
túmulos reais são das obras de escultura mais
significativas deste período.

Na pintura (a área de maior destaque no Renascimento
nacional), destacam-se as obras atribuídas a Nuno
Gonçalves (como o célebre políptico de São Vicente) e
ainda os nomes de Vasco Fernandes (da oficina de Viseu),
Francisco Henriques (painéis da igreja de São Francisco
de Évora), Frei Carlos, o mestre anónimo autor dos painéis
do convento de Tomar (que provavelmente não seria
português), o dito "mestre do sardoal", Jorge Afonso,
Garcia Fernandes e Cristóvão de Figueiredo. Ainda, neste
período, ganhou relevo a arte do retrato. Surgida entre nós
no século XV, era símbolo de cultura humanista (exemplo
do retrato de D. João I e dos retratos dos painéis de São
Vicente). Em Portugal, durante este período,
desenvolveram-se ainda a iluminura (Leitura Nova, série de
livros encomendados por D. Manuel); a cartografia, a que
se aplicaram frequentemente iluminuras (Família Reinel,
Fernão Vaz Dourado), e o vitral (Luís Dias), de que se
encontram exemplos no mosteiro da Batalha, centro que
fez escola. Nas artes decorativas, destacam-se a célebre
Custódia de Belém, o relicário de D. Leonor, várias peças
de baixela e a tapeçaria (série da Descoberta da Índia,
reflexo do período histórico de então, conjugando épica e
exotismo). Estas artes reflectiam, em geral, um gosto
sumptuário da corte. De referir são ainda as várias artes
resultantes do contacto português com outros povos,
como a chamada arte indo-portuguesa ou a arte
luso-africana, que se reflecte nas mais variadas formas de
criação artística.

Pintura Renascentista

Resumidamente, a contribuição maior da pintura do Renascimento foi sua nova maneira de representar a natureza, através de domínio tal sobre a técnica pictórica e a perspectiva, que foi capaz de criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional em uma superfície plana.seu espaço sem profundidade e seu sistema de proporções simbólico onde os personagens maiores tinham maior importância numa escala que ia do homem até Deus - estabelecendo um novo parâmetro, cujo fundamento era matemático, na hierarquia teológica medieval.

A pintura renascentista é em essência linear; o desenho era agora considerado o alicerce de todas as artes visuais e seu domínio, um pré-requisito para todo artista.

Giotto, actuando entre os séculos XIII e XIV, foi o maior pintor da primeira Renascença italiana e o pioneiro dos naturalistas em pintura., causou forte impressão em seus contemporâneos e dominaria toda a pintura italiana do Trecento, por sua lógica, simplicidade, precisão e fidelidade à natureza. Ambrogio Lorenzetti e Taddeo Gaddi continuaram a linha de Giotto sem inovar.

As representações da figura humana adquiriram solidez, majestade e poder, reflectindo o sentimento de autoconfiança de uma sociedade que se tornava muito rica e complexa, com vários níveis sociais, de variada educação e referenciais, que dela participavam activamente, formando um painel multifacetado de tendências e influências.

Mais adiante, na Alta Renascença, com Leonardo da Vinci, a técnica do óleo se refinou ao mesmo tempo em que aliava fortemente arte e ciência.

Bramante

Donato di Angelo del Pasciuccio, conhecido como o Bramante, nasceu em 1444 – Roma e fleceu a 11 de Março de 1514, foi um dos melhores arquitectos renascentistas.Estudou pintura e trabalhou posteriormente em Milão (1477-1499), tentado conciliar a cultura humanista de se estabeleceu em Florença com o novo movimento artístico que iria surgir na cidade de Milão. Foi Andrea Mantegna, o seu professor, quem o levou a conhecer a arte clássica pela qual Bramante se apaixonou de imediato.Alcançou a fama através do seu trabalho sobre geometria de desenho de perspectiva e a sua obra exerce notável influência sobre a obra de Michelangelo ou mesmo de Rafael.Uma das suas obras mais emblemáticas é o Tempietto de S. Pietro in Montorio, igreja encomendada a Bramante pelo Papa Júlio II, a obra que melhor reflecte as suas concepções de estilo, é, seguramente, o projecto da Basílica de S. Pedro, no Vaticano. De facto, esta foi projectada por Bramante, embora o projecto final seja da autoria de Michelangelo.



San Pietro in Montorio é uma igreja em Roma construída no local onde já havia outra no século IX, marcando o local onde, se acordo com a tradição, foi crucificado São Pedro. A adição in Montorio, que significa «no monte de ouro», deriva do solo dourado ocre da colina que em Latim era apelidada Mons aureus.Esta capela é rodeada de colunatas dóricas e assentava numa plataforma de três degraus. A sua planta é totalmente simétrica. Apesar das suas pequenas proporções, tem toda a grandeza e rigor dos edifícios clássicos. No final do século XV, a igreja foi dada aos franciscanos, e com ajuda dos reis espanhóis Fernando II de Aragão e Isabel de Castela, um novo edifício pode ser erguido, restaurado após os combates de 1849.
O arquiteto foi Baccio Pontelli, e a igreja segue o estilo Renascentista inicial, com uma nave flanqueada por capelas laterais. «Há duas obras primas no interior: a «cappella Raimondi», segunda à esquerda, construída de 1638 a 1648, desenhada por Gian Lorenzo Bernini; e a capela Borgherini, primeira capela à direita, cujo altar mostra a «Flagelação de Cristo» por Sebastiano del Piombo, um dos maiores pintores do auge do Renascimento em Roma.
Este altar, que como a «Transfiguração de Cristo» na lunette foi pintado para o cardeal Pier Francesco Borgherini, prende o espectador pela coragem de sua composição, onde há equilíbrio entre a arquitetura com as colunas e a poderosa descrição pictórica de Cristo entre seus carrascos. Os corpos musculosos recordam Michelangelo, com quem Piombo foi associado.
Outra peça sensacional na igreja é o pequeno templo ou Tempietto, capela construída por Donato Bramante a pedido do Papa Júlio II em 1502. Foi construído no pátio da igreja, no exato sítio da cruz onde se pensa que S. Pedro tinha sido martirizado.
O projecto original previa um pátio-colunata envolvente, para que a capela não parecesse tão isolada. É o marco que assinala o nascimento da Arquitectura do Alto Renascimento, projeto pioneiro e dos mais copiados, que se distingue pelo uso de um vocabulário formal verdadeiramente clássico. Suas proporções são equilibradas, orientadas inteiramente à escala do homem, e a claridade do desenho arquitetural lhe confere uma dignidade e monumentalidade especial. Seu modelo foi o tempo redondo comum na Antiguidade, de modo que domina o motivo do círculo, considerado o símbolo da perfeição cósmica.
O edifício consiste de um centro cilíndrico de dois andares, coroado por um domo semicircular. O centro se enquadra em um anel de colunatas dóricas de granito, assentes sobre plataforma de três degraus, que chegam ao primeiro andar. O andar superior recua em relação a sua balaustrada, com janelas que alternam entre nichos retangulares e semicirculares. Tais janelas iluminam o interior, com a luz que penetra por uma abertura no domo.
A planta é totalmente simétrica. Apesar das pequenas proporções, tem a grandeza e rigor dos edifícios clássicos. Distintamente da prática comum na arquitectura romana e cristã para igrejas, Bramante se concentrou no exterior e quase não decorou o interior.
Em seu conceito, o edifício seria puramente monumental: um memorial cristão de forma clássica. O pequeno interior é branco, e nos nichos, colocados exatamente entre os do exterior, há estátuas da escola de Bernini. Há ainda acesso a uma capela subterrânea, construída em 1586 pelo Papa Paulo III (pontificado de 1534 a 1549) que marca o suposto local do martírio de São Pedro.


Painéis de São Vicente

Painéis de São Vicente de Fora é um obra composta por 6 painéis, criada essencialmente pelo pintor português Nuno Gonçalves entre 1470 e 1480. Pintura a óleo e têmpera sobre madeira e está no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa.
Uma obra-prima da pintura portuguesa do século XV na qual, com um estilo bastante seco mas poderosamente realista, se retratam figuras proeminentes da corte portuguesa de então, incluindo o que se presume ser um auto-retrato, e se atravessa toda a sociedade, da nobreza e clero até ao povo.
A autoria desses painéis, foi descoberta por José de Figueiredo.
Investigações recentes, nomeadamente de Jorge Filipe de Almeida levam a concluir que os painéis foram pintados realmente por Nuno Gonçalves, cerca de 1445 e representam não S. Vicente, mas sim o funeral simbólico do Infante Santo.

Estilo Gótico

O gótico designa uma fase da história da arte ocidental, identificável por características muito próprias de contexto social, político e religioso em conjugação com valores estéticos e filosóficos e que surge como resposta à austeridade do estilo românico.

Este movimento cultural e artístico desenvolve-se durante a Idade Média, no contexto do Renascimento do Século XII e prolonga-se até ao advento do Renascimento Italiano em Florença, quando a inspiração clássica quebra a linguagem artística até então difundida.

Os primeiros passos são dados a meados do século XII em França no campo da arquitectura acabando por abrangir outras disciplinas estéticas, estende-se pela Europa até ao início do século XVI, já não apresentando então uma uniformidade geográfica.

A arquitectura, em comunhão com a religião, vai formar o eixo de maior relevo deste movimento e vai cunhar profundamente todo o desenvolvimento estético.





Arquitectura Gótica

Arquitectura gótica é um estilo arquitectónico que segundo pesquisas, é evolução da arquitectura românica e precede a arquitectura renascentista. Foi desenvolvido na França em pleno período medieval, onde originalmente se chamava "Obra Francesa". O termo 'gótico' só apareceu no final da Renascença como um insulto estilístico.

Com o gótico, a arquitectura ocidental atingiu um dos pontos culminantes da arquitectura pura. As abóbadas cada vez mais elevadas e maiores, não apoiavam-se em muros e paredes compactas e sim sobre pilastras ou feixes de colunas. Uma série de suportes que eram constituídos por arcobotantes e contrafortes possuiam a função de equilibrar de modo externo o peso excessivo das abóbadas. Desta forma, imensas paredes espessas foram excluídas dos edifícios de género gótico e foram substituídas por vitrais e rosáceas que iluminavam o ambiente interno.

O estilo gótico ficou marcado em muitas catedrais europeias, entre elas a de Notre-Dame, Chartres, Colônia e Amiens, a maioria classificada como Património Mundial da UNESCO. Muitas catedrais góticas caracterizam-se pelo verticalismo e majestade, denominando-se durante a Idade Média, como supremacia e influência para a população.





Escultura Gótica


A escultura gótica surge, numa primeira fase, intimamente associada à arquitetura das catedrais. No exterior do edifício são sobretudo as fachadas, principal e do transepto, nomeadamente os portais, os suportes para a implantação da escultura; à medida que se vão tornando mais complexas, também as empenas, rosáceas, tabernáculos dos arcobotantes e gárgulas das catedrais vão servir de suporte para a decoração das esculturas. Quanto à estrutura do portal, ele é constituído pelo tímpano, arquivoltas, mainel e ombreiras ou jambas, substituídas por estátuas-coluna. No interior o trabalho é bem mais reduzido, e é sobretudo a partir do século XIV que a catedral passa a albergar mobiliário com relevo em talha (cadeirais do coro), estatuária devocional, altares e arcas tumulares. No seu conjunto, a escultura gótica pode ser agrupada em quatro tipologias. Sendo a primeira as estátuas-coluna, aplicada nas ombreiras do portal conferindo uma dimensão vertical ao pórtico, mas que progressivamente se vai autonomi- zando em relação ao seu suporte arquitetônico. O segundo elemento é o relevo escultórico, sobretudo no tímpano do portal. O terceiro, considera-se a escultura de vulto redondo, em especial estatuária de devoção, resultante da evolução das estátuas-coluna. O quarto item da tipologia é a escultura funerária, ou seja, arcas tumulares e estátuas jacentes.

Os temas mais comuns, sobretudo na fachada (portal), são os seguintes: Cristo em Majestade, associado ao Tetramorfo; Juízo Final; Virgem em Majestade, Vida da Virgem e Nascimento de Cristo - um tema introduzido por influência da difusão do culto mariano desde os finais do século XII - Episódios da vida dos santos patronos da respectiva igreja - associados a estes temas começa a ser mais comum a existência de relevos escultóricos e estatuária de caráter profano. Se a estátua-coluna e o relevo têm uma relação de dependência com o respectivo suporte arquitetônico, a partir do século XIV torna-se muito abundante a escultura de vulto redondo, estatuária de devoção associada às práticas da piedade individual e destinada a capelas ou oratórios privados. É sobretudo constituída por imagens da Virgem (Virgem com o Menino, Senhora do Ó ou Santas Mães, Pietà), de santos e crucifixos, e executada em materiais diversos, como a pedra, madeira, marfim, bronze, ouro e alabastro. Em termos de linguagem plástica, e no conjunto de toda a produção escultórica, podem ser definidas três tendências principais: Idealismo (séculos XII-XIII), com figuras estilizadas e ausência de expressividade dos respectivos rostos (serenidade inexpressiva); hieratismo das estátuas-coluna: ausência de movimento, panejamentos rígidos acentuam a verticalidade, ausência de proporção anatômica; Naturalismo (2ª metade do século XIII a meados do XIV), em que a estatuária ganha vida e movimento, com ancas pronunciadas e silhuetas "em S" para evidenciar dinamismo, acentua-se a expressão do rosto e surgem detalhes mais minuciosos no tratamento de cabelos e barbas, conferindo um caráter mais humano às personagens divinas representadas; Realismo (2ª metade do século XIV e durante o século XV), época do triunfo da curva e contra-curva, ondulação excessiva, sobretudo no drapeamento, que acentua a expressividade das estátuas; preocupação absoluta de representação do real, que conduz à procura da verossimilhança no retrato; por influência da grande mortandade após 1348 e os progressos nos estudos anatômicos levam mesmo ao exagero de representar o corpo feito cadáver.


Sobre a escultura gótica


Apesar de terem mantido muitos aspectos que caracterizaram a escultura românica, como, por exemplo, a continuidade de uma relação de grande cumplicidade com a arquitetura, os artistas dos sécs. XIII e XIV alargaram o seu repertório temático, utilizaram um maior número de suportes e receberam da parte dos enco- mendadores uma atitude mais aberta em relação ao seu trabalho. Relativamente ao período anterior, registrou-se uma evolução, sobretudo, ao nível da composição, da expressividade, da monumentalidade das suas obras e da progres- siva aproximação ao real. Deste modo, a escultura gótica estabeleceu uma aproximação gradual à cultura humanística, assumindo um caráter mais naturalista na representação do rosto, do corpo humano ou da natureza, desenvolvendo novas capacidades expressivas e autonomizando-se em relação à arquitetura. Tendo conquistado o seu próprio espaço, a escultura atingiu uma concepção mais plástica, mais dinâmica e verdadeira. Uma das obras paradigmáticas desta renovação é a Morte da Virgem, do tímpano da Catedral de Estrasburgo. Aqui, a dificuldade de adaptação das figuras ao espaço arquitetônico, implicando em alguns casos a representação parcial das figuras, é compensada pela delicadeza com que os Apóstolos tocam o corpo da Virgem e pela emoção que se manifesta nos seus rostos. Também a forma como são tratados os cabelos e as pregas das roupas, evidenciando a anatomia dos corpos, é inovadora e faz-nos lembrar a arte clássica. Já a Anunciação e a Visitação esculpidas nas jambas do pórtico ocidental da Catedral de Reims libertaram-se da arquitetura para se converterem em esculturas de vulto redondo, firmemente apoiadas no solo, continuando um caminho iniciado em Chartres. Privilegiando uma aproximação ao mundo físico, as pregas da roupa deixam transparecer as anatomias que cobrem e, especialmente na Visitação, o escultor parece dominar completamente o modelo clássico.

Talvez a inovação mais significativa se relacione com a organização do portal do templo: as ombreiras, ou jambas, são substituídas por estátuas-coluna que se prolongam nas arquivoltas em torno do tímpano. A evolução dos temas e da iconografia, inspirada no Novo Testamento, continua sendo estabelecida por motivações de ordem religiosa - Cristo em Majestade, Juízo Final (com os Apóstolos distribuídos pelas ombreiras) e a Virgem em Majestade -, mas, de um modo geral, as figuras são humanizadas estabelecendo entre elas uma relação afetiva. A partir de meados do séc. XII, o santo patrono da igreja ocupa o tímpano numa mandorla e no centro de cenas da sua vida, ao qual se juntam todos os santos da diocese nas ombreiras, em estátuas-coluna. A escultura gótica caracterizou-se, sobretudo, pelo naturalismo das expressões e dos detalhes mais minuciosos e por uma representação mais próxima do real. Para além destas manifestações, surgem com grande impacto na produção escultórica as estátuas jacentes e os retratos funerários, o que se deveu fundamentalmente à proliferação de capelas privadas para albergar sepulcros de nobres, altos dignitários eclesiásticos e burgueses.







PINTURA

A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura o realismo na representação dos seres que compunham as obras pintadas, quase sempre tratando de temas religiosos, apresentava personagens de corpos pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar voltado para cima, em direção ao plano celeste.

Os principais artistas na pintura gótica são os verdadeiros precursores da pintura do Renascimento (Duocento):

* Giotto - a característica principal do seu trabalho foi a identificação da figura dos santos com seres humanos de aparência bem comum. E esses santos com ar de homem comum eram o ser mais importante das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais se firmando até ganhar plenitude no Renascimento.

Obras destacadas: Afrescos da Igreja de São Francisco de Assis (Itália) e Retiro de São Joaquim entre os Pastores.

* Jan Van Eyck - procurava registrar nas suas pinturas os aspectos da vida urbana e da sociedade de sua época. Nota-se em suas pinturas um cuidado com a perspectiva, procurando mostrar os detalhes e as paisagens.

Obras destacadas: O Casal Arnolfini e Nossa Senhora do Chanceler Rolin.

Arquitectura Gótica Em Portugal

O estilo gótico aparece no último quartel do século XII, com as obras do Mosteiro de Alcobaça (começado em 1178 e habitado a partir de 1222). O Mosteiro, fundado pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, para a Ordem Cisterciense, é a primeira obra totalmente gótica de Portugal. Entretanto, a dissolução do estilo românico pelo gótico ocorreu lentamente, havendo muitas igrejas portuguesas de estilo de transição românico-gótico datando do século XIII e até do século XIV.A expansão da arquitectura gótica em Portugal deveu muito às ordens religiosas mendicantes (franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinhos), que construíram vários mosteiros em cidades portuguesas nos séculos XIII e XIV. Importantes exemplos são as igrejas franciscanas e dominicanas de Santarém e Guimarães, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra (hoje em ruínas), Mosteiro de São Francisco do Porto, Igreja do Convento do Carmo em Lisboa (hoje em ruínas e usado como museu arqueológico) e muitas outras. Também as ordens medievais militares contribuíram para a expansão do gótico, por exemplo com Igreja de São João de Alporão de Santarém e o Mosteiro de Leça do Bailio (pertencente aos Cavaleiros Hospitalários), e com a Igreja de Santa Maria dos Olivais de Tomar (fundada pelos Cavaleiros Templários). Algumas catedrais portuguesas também foram construídas em estilo gótico, como a Sé de Évora (séc XIII-XIV), a Sé de Silves (séc XIV-XV) e a Sé da Guarda (finais séc XIV-XVI).Um marco na arquitectura gótica portuguesa é o Mosteiro da Batalha, construído a mando do rei D. João I para comemorar a vitória na Batalha de Aljubarrota contra os castelhanos. A obra do mosteiro, começada em 1388 e que seguiu até o século XVI, introduziu o gótico internacional flamejante em Portugal, distanciando-se da estética mendicante. Esse mosteiro influenciaria muitas obras de Portugal do século XV, como a Igreja da Graça de Santarém, a capela do Castelo de Leiria, a Sé da Guarda, o Convento da Nossa Senhora da Conceição de Beja, entre outros.O dissolução do gótico pelo estilo renascentista ocorreu lentamente, sendo o estilo intermediário chamado manuelino devido a que coincidiu com o reinado do rei D. Manuel I (1495-1521). O manuelino mistura formas arquitetónicas do gótico final com a decoração gótica e renascentista, criando um estilo tipicamente português. A partir do Mosteiro de Jesus de Setúbal, considerado a primeira obra manuelina, o estilo se espalha por Portugal e atinge o ápice com a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos, ambos em Belém (Lisboa), a Igreja do Convento de Cristo de Tomar, as Capelas Imperfeitas e Claustro Real do Mosteiro da Batalha, além de muitos outros monumentos.Além da arquitectura religiosa, muitos castelos foram construídos e/ou reformados em estilo gótico em Portugal, como os Castelos de Leiria, Estremoz, Beja, Bragança e Santa Maria da Feira.



Mosteiros

Além de centros de sabedoria, os grandes mosteiros fundados através da Europa durante a Idade Média, eram também uma fonte de alívio para os pobres, doentes e por vezes também para os proprietários mais abastados.
O modo de vida denominado “monasticismo” em que se vivia separado do mundo para dedicação total a Deus.
Os primeiros cristãos a adoptarem este modo de vida foram os eremitas.
Começaram-se a formar outras comunidades parecidas, de frades ou freiras, estando várias delas ligadas pelas “regras”, uma espécie de guia sobre a maneira como deveriam viver.
A regra maior foi a de S. Bento de Núrsia, fundador do Mosteiro do Monte Cassino, em Itália, cerca do ano 529, e que decidiu que a vida dos monges devia ser uma vida de orações e tarefas manuais. alguns monges, tornaram-se estudiosos e professores, conseguindo,
ler ou escrever, preservar muitos conhecimentos clássicos que de outra forma se poderiam ter perdido.
Além de cuidar dos doentes e alimentar os pobres, os monges oravam pelas almas dos mortos. Na Europa da Idade Média, os mosteiros serviam também como abrigo para os viajantes.

Iluninuras


Iluminura é um tipo de pintura decorativa, frequentemente aplicado às letras capitulares no início dos capítulos dos códices de pergaminho medievais. O termo se aplica igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos, produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média. A sua elaboração era um ofício refinado e bastante importante no contexto da arte medieval.

No século XIII, "iluminura" referia-se sobretudo ao uso de douração e portanto, um manuscrito iluminado seria, no sentido estrito, aquele decorado com ouro ou prata.

Arquitetura Românica

A arquitectura românica é o estilo arquitectónico que surgiu na Europa no século X e evoluiu para o estilo gótico no fim do século XII. Caracteriza-se por construções austeras e robustas, com paredes grossas e minúsculas janelas, cuja principal função era resistir a ataques de exércitos inimigos.

As conquistas de Sancho de Navarra e Aragão, alargando o seu domínio, desimpediram o que viria a ser o famoso «caminho francês» para Santiago de Compostela, cuja célebre catedral (posteriormente reconstruída em 1705) é o mais acabado monumento peninsular da nova arquitectura românica, obedecendo ao padrão dos templos de peregrinação, como São Saturnino de Toulouse. O alçado do alta nave de Santiago inscreve os arcos redondos, o andor do trifório, e colunas adossadas à parede, donde arrancam os arcos torais da sua abóbada de berço.

Igrejas românicas e igrejas paleo-cristãs

A estrutura das igrejas românicas é mais complexa que a das paleo-cristãs. Estando mais próxima da Arquitectura romana no seu aspecto apresenta naves de abóbadas de pedra em vez de travejamento de madeira. A igreja românica é precedida por um átrio ladeado de pórticos que faz a ligação à igreja através de um narthex.

No caso das igrejas paleo-cristãs, no cruzamento da nave com o transepto situa-se um arco triunfal que emoldura a ábside e o altar. Este arco era colocado sobre a bema, área elevada ao centro do transepto que corresponde ao cruzeiro. As colunas da nave central suportam arcadas que conformam um alçado contínuo.

O esquema do alçado interior das igrejas românicas faz-se através dos elementos: coluna, feixe de pilares, abóbadas de canhão, tribuna. Enquanto que nas paleo-cristãs é visível a sequência: colunas, entablamento directo, arco e vãos.

Carlos Magno

Carlos I, nascido em 742, filho mais velho de Pepino, subiu ao trono franco em 768, após a morte deste. Neste tempo a Europa ainda era uma região inóspita e instável, repartida em varias unidades politicas bárbaras.

Segundo Enginardo, biógrafo e contemporâneo do imperador, Carlos Magno "dava, exterioremente, quer sentado quer de pé, uma forte impressão de autoridade e de dignidade (...) Falava com abundância e facilidade, sabia exprimir tudo o que queria com grande clareza. Aplicou-se ao estudo das línguas estrangeiras e aprendeu tão bem o latim que se exprimia indiferentemente nesta língua ou na língua materna."

Graças ás qualidades como militar e governante de Carlos Magno, o Ocidente conheceu a sua primeira época de estabilidade e ordem, após as grandes invasões. Teve grande êxito nas suas expedições militares devido á superioridade da cavalaria que era a arma mais forte dos seus exércitos.

Preocupou-se também com a administração dos territórios que dividiu em condados (geridos por condes e vigiados pelos missi dominici) e restaurou as letras e as artes, ao rodear-se de sábios e estudiosos e incentivando os seus trabalhos.

Executou ainda reformas na educação que ajudaram a preparar o caminho para o Renascimento do século XII.

Nas suas campanhas fez-se acompanhar por missionários e pregadores, procedendo assim à conversão forçada ao catolicismo, dos povos conquistados, massacrando os que se recusavam a converter. Desta maneira deu um aspecto de cruzada a favor da Igreja ás suas lutas. Assim alargou consideravelmente o horizonte da sua influência espiritual.
Em Dezembro de 800, Carlos foi largamente recompensado pela Igreja, ao receber a coroa de imperador do Ocidente. Este acontecimento revestiu-se de grande importância politica visto que concedeu a Carlos Magno a qualidade de legitimo herdeiro dos imperadores romanos; restabeleceu o Império Romano do Ocidente, transferindo a dignidade imperial para o rei dos Francos; unificou o Ocidente sob o mesmo poder político e também o mesmo poder espiritual - o do Cristianismo e dos papas de Roma.
Faleceu em 814, em Aix-la-Chapelle.